Alternativos: Mori no Densetsu
Ano: 1987
Diretor: Osamu Tezuka
Estúdio: Tezuka Productions
País: Japão
Episódios: 1
Duração: 29 min
Gênero: Aventura / Fantasia
Uma das últimas obras realizadas por Osamu Tezuka, "Legend of the Forest" foi produzida em 1987, dois anos antes da morte do grande mestre dos mangás. Responsável pela direção e pelos cenários desta obra, Osamu Tezuka tinha a intenção de fazer um tributo a "Fantasia", obra-prima realizada em 1940 por Walt Disney, com a qual compartilha várias semelhanças. "Legend of the Forest" não possui diálogos, utiliza clássicos como músicas de fundo (4a. Sinfonia, Op.36, de Tchaikovsky) e possui um estilo visual e de animação que, em alguns momentos, lembra muito as obras clássicas da Disney dos anos 40 e 50.
"Legend of the Forest" é dividido em duas partes, ambas com um forte conteúdo ecológico. Na primeira parte, os habitantes de uma floresta devem enfrentar a destruição causada pelo homem. Enquanto buscava salvar sua ninhada recém-nascida durante um ataque particularmente violento de um lenhador e sua moto-serra, um esquilo acaba deixando cair um de seus filhotes. Salvo da morte certa pela providencial ajuda de uma grande folha, o esquilinho conta com a ajuda de toda a fauna e flora da região para sua sobrevivência. Resta saber como será o seu reencontro futuro com a pessoa que o separou à força de sua família.
Na segunda parte, seres famosos dos contos-de-fadas e que vivem na floresta se unem para combater a ameaça de destruição total pelos homens e suas retro-escavadeiras. Muitos querem partir para a guerra, outros preferem o diálogo, alguns querem até mesmo usar magia para resolver o problema. Liderados pelos Sete Anões, os seres da floresta precisarão de muito talento e criatividade para segurar um mestre-de-obras claramente inspirado em Adolf Hitler.
O estilo visual e narrativo das duas partes de "Legend of the Forest" são também bastante distintos. A 1a parte pode até ser considerada um resumo da evolução das técnicas de animação, começando numa seqüência de imagens paradas e muito detalhadas, passando por partes que lembram muito as antigas obras de Max Fleischer até chegar num estilo totalmente Disney anos 40. Os animais antropomorfizados e as árvores com rostos são mais uma referência às antigas obras de Walt Disney. Já a 2a parte utiliza uma animação mais clássica para retratar a floresta e seus habitantes, mas utiliza um estilo semelhante ao de "Friz" Freleng em "A Pantera Cor-de-Rosa" para mostrar o lado dos humanos e suas máquinas.
Com estas informações em mãos, "Legend of the Forest" tinha tudo para ser uma obra sensacional. Infelizmente o resultado final ficou muito aquém do que prometia. O problema principal, e que acaba afetando todo o conjunto, diz respeito à incompatibilidade entre a música utilizada e a história. Se cada segmento de "Fantasia" foi criado levando-se em conta o tema utilizado como fundo musical, parece que a única preocupação em "Legend of the Forest" foi sincronizar ao máximo as imagens com a 4a Sinfonia de Tchaikovsky, e aí o caldo desandou de vez. A música grandiosa de Tchaikovsky, muito bem executada pela Orquestra Sinfônica de Tóquio (regência de Kenichiro Kobayashi), simplesmente não combina com o tom pueril e cartunesco do anime. Além disto, para que a animação coincidisse com a cadência musical, o ritmo narrativo tornou-se muito errático, com cenas trágicas e cômicas se alternando de maneira muito irregular. Exagerando um pouco, tentem imaginar "A Bela Adormecida" com músicas do Sepultura como fundo musical, ou algo como "Urotsukidôji" ao som de música gospel para terem uma idéia do problema.
Com isto, apesar de toda a excelência técnica exibida pela equipe da Tezuka Productions, "Legend of the Forest" acaba sendo apenas uma seqüência de belas imagens sem ritmo e sem um conteúdo forte o suficiente para manter o interesse do espectador. E mesmo a mensagem ecológica que o anime tenta passar, de forma até um pouco exagerada, não afeta o público como deveria. A idéia de prestar um tributo a "Fantasia" foi louvável, uma pena que a execução não tenha feito jus às boas intenções de Tezuka & Cia.
Marcelo Reis
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