quinta-feira, fevereiro 14, 2013

Higan (OVA)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 17/03/2007.

Ano: 2002
Diretor: Yasushi Muraki
Estúdio: Studio 4ºC
Episódios: 1
Duração: 8 min
Gênero: Psicológico / Militar


Para um estúdio que nunca havia sido citado no Animehaus até o final de 2006, até que o Studio 4ºC está aparecendo com uma certa freqüência nas páginas do site, ao mesmo tempo em que conquista alguns fãs fiéis, como o distinto senhor que escreve estas linhas. É claro que as obras desta estúdio não se limitam aos curtos OVAs que resenhamos por aqui de vez em quando, mas foram nestas obras rapidinhas que os membros do Studio 4ºC tiveram mais liberdade de colocarem na tela aquilo que gostariam, sem se preocuparem muito com orçamentos ou imposições dos "cabeças" no topo da hierarquia. Isto permite que a visão de cada autor apareça com mais ênfase, algo sempre muito bem vindo num mundo em que as obras audio-visuais se tornam cada vez mais um produto comercial, na acepção mais pura do termo.

Enfim, conversa mole à parte, vamos ao que interessa! "Higan" é um curta-metragem realmente curto, de apenas 8 minutos, e faz parte da famosa série de curtas "Sweat Punch" que inclui, entre outros, o fabuloso "Comedy". "Higan" foi o 4º e último OVA lançado dentro desta série e, pelo menos do ponto de vista técnico, é o mais impressionante. O problema de se escrever uma resenha sobre um anime tão curto é que qualquer deslize na escrita pode entregar algum "spoiler" indesejado. Por isto, Marcelo, cuidado com o que irá escrever...

Em um assustador cenário noturno de guerra, em meio a uma espessa e sombria floresta, há um soldado à espreita. Usando óculos infra-vermelhos para visão noturna e um capacete sofisticado, este soldado é o líder de um pelotão de unidades de combate semelhantes a mechas. Através de curtos fragmentos narrativos, percebemos que este pelotão está sendo dizimado sem perdão em meio a uma feroz batalha contra inimigos indefinidos, e vemos tudo isto de camarote, através da visão do líder do esquadrão.


E é isto. Falar mais sobre a história pode estragar de vez a experiência de quem for assistir ao anime, e digo isto por experiência própria, pois o único resumo que li sobre Higan antes de assisti-lo, com pouco mais de 6 linhas, entregava o final sem aviso prévio. O que importa aqui é a pergunta: vale a pena assistir a Higan?

Sem sombra de dúvidas. Tecnicamente, como sempre, o Studio 4ºC não deixa a desejar, e não digo apenas na parte visual, mas também na sonora. A animação é um primor, o uso de cores e contrastes passa com perfeição a sensação ambígüa de horror e beleza em meio àquele cenário de morte e destruição. É mais ou menos como ver filmagens de explosões nucleares, a formação do sinistro cogumelo atômico cuja aterrorizante beleza traz implícita toda a destruição que ocorre em seu interior. Por mais que saibamos que cada explosão, cada chama em "Higan" esteja acompanhada de uma morte terrível, é difícil não se admirar com a beleza daquele fogo mesclado à escuridão noturna no coração da floresta.

Os combates ferozes se tornam mais realistas não apenas pela perfeita animação de "Higan" mas, principalmente, pelo fantástico trabalho sonoro, algo que nem sempre é muito percebido em animes. Claro que músicas e trilhas sonoras são importantes, ajudando a dar o clima esperado em várias cenas, mas existem momentos em que a música extra-diegética, aquela cuja fonte vem de fora do ambiente em que se passa a cena, não é necessária. Se olharem a resenha de "Avenger" presente no Animehaus, verão que um dos maiores problemas da série é o excesso de música... muitas vezes o silêncio pode realçar, e muito, o poder de determinados momentos. Ainda que, em Higan, o silêncio não seja assim tão importante, os efeitos sonoros certamente o são. Cada cena de combate é potencializada pelo trabalho sinérgico entre imagem e som, cada tiro, cada explosão são sentidos com força pelo espectador do lado de cá e mostram, de forma clara e direta, que não existe nada de glamuroso e belo na guerra, apenas o horror. E isto bate na cabeça com força total quando chegamos ao final melancólico, que dá o que pensar.



De certo modo, "Higan" guarda certas semelhanças com "Johnny Vai à Guerra", famoso livro de Dalton Trumbo que deu origem ao famoso e polêmico filme dirigido por ele mesmo em 1971. Ainda que a obra de Trumbo seja bem mais complexa e impressionante, "Higan" não faz feio ao mostrar a guerra como algo abominável, sem que, para isto, precise apelar para a narrativa panfletária. É uma pena que o Studio 4ºC não tenha usado a idéia em um OVA mais longo, pois ainda que "Higan" seja muito acima da média, o argumento original tinha todo o potencial para se tornar uma obra-prima irrepreensível. "Higan" é excelente, mas a curta duração impede que se torne um anime realmente memorável. Ainda assim, como a maioria das obras do Studio 4ºC, é algo que precisa ser conhecido e divulgado.


Marcelo Reis


 

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