terça-feira, fevereiro 12, 2013

Cyber City Oedo 808 (OVA)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 22/01/2006

Alternativos: Cyber City
Ano: 1990
Diretor: Yoshiaki Kawajiri
Estúdio: Madhouse
País: Japão
Episódios: 3
Duração: 40 min
Gênero: Aventura / Mecha / Sci-Fi


Aproveitando o sucesso obtido por Akira em 1988, vários animes com temática "cyberpunk" apareceram nos anos seguintes, buscando um pedacinho deste filão altamente promissor. Cyber City Oedo 808 foi um dos mais bem sucedidos desta leva, ainda que o sucesso obtido não tenha sido nada estrondoso. Constituído por 3 OVAs de aproximadamente 40 minutos cada, Cyber City Oedo 808 foi produzido entre 1990 e 1993 pela Japan Home Video (JHV), com animação a cargo da Madhouse. Dirigido por Yoshiaki Kawajiri (Ninja Scroll, Vampire Hunter D: Bloodlust), o qual também foi o responsável pelo desenho de personagens, ao lado de Hiroshi Hamazaki, Cyber City Oedo é um típico anime de ação da época em que foi produzido, com algumas partes muito interessantes mas um conjunto geral pouco coeso e coalhado de clichês.

No ano 2808, 3 prisioneiros participam de uma entrevista dentro de uma nave. Devem escolher entre permanecerem na prisão por toda a vida ou tornarem-se membros da Cyber Police. A cada criminoso Tipo A que capturarem, suas sentenças serão reduzidas em alguns anos... com o tempo, podem até mesmo ganhar a liberdade completa. Mas nem tudo são flores: cada um andará sempre com um colar no pescoço, e se algum dos 3 pisar na bola ou tentar algo não planejado, os colares explodirão e "kaputt": todo mundo morto.

Os tais prisioneiros são Shunsuke Sengoku, condenado a 375 anos de prisão por assassinato, roubo e fraude cibernética. Bom de briga, Sengoku é chegado numa bebida, e ressaca é algo comum em sua vida, mas possui uma espadinha poderosa que causa estragos com uma facilidade tremenda.

Outro condenado é Merrill Yanagawa, também conhecido como Benten, condenado a 295 anos de prisão por assassinato, roubo e falsificação. Ágil e com uma habilidade tremenda no manejo de um arame super-cortante, Benten possui um visual andrógino (batom, unhas pintadas), mas não brinca em serviço: o cara é perigoso.

O terceiro prisioneiro é Gabimaru Rikiya, vulgo Goggles, condenado a 310 anos de prisão por assassinato, roubo e vandalismo. Sempre usando óculos transadíssimos (daí o apelido Goggles) e um característico penteado moicano, Rikiya é simplesmente "o cara" quando o assunto é invasão de sistemas computadorizados de segurança.


Praticamente a única coisa que une os 3 OVAs é o destino interligado dos 3 prisioneiros, controlados com mão de ferro por Hasegawa, chefe da seção que sentencia os presos. Cada OVA possui uma história distinta mas relacionada com o ambiente cibernético em que se passa, uma cidade gigantesca totalmente controlada por computadores, na qual uma pane no sistema pode causar um colapso completo. No primeiro OVA, a ação de um ameaçador "hacker" coloca toda a cidade em risco; no segundo, a missão envolve o tráfico de órgãos e partes humanas para serem usados em projetos secretos relacionados à construção de robôs poderosíssimos; e no terceiro OVA, assassinatos em massa de bioengenheiros que trabalham em pesquisas de DNA no mercado negro parecem ter sido realizados por um vampiro... será?

Visualmente, a série é muito envolvente, com um ambiente futurista muito legal e criativo, apesar do cenário parecer um pouco "chapadão" em alguns momentos. A animação 100% tradicional da Madhouse, como sempre, está impecável, quase no mesmo nível de Ninja Scroll, produção da mesma empresa. As cenas de combate são todas muito boas, especialmente aquelas em que Benten está em ação com seu arame fora de série, cortando tudo o que pinta no caminho. E o típico "chara" de Yoshiaki Kawajiri continua agradável como sempre, apesar do velho problema de entregar quem é "mau" na história. Pode anotar: se aparece alguém com olhos apertadíssimos, cujas pupilas são minúsculas e levemente divergentes, pode saber que o fulano em questão é praticamente o Demo!

Os 3 personagens são muito bons, com comportamentos ambígüos é, às vezes, um pouco egocêntricos, mas sempre muito unidos, até mesmo porque cada um controla o destino dos outros dois: é trabalhar junto com eficiência ou morrer sem cabeça. Sengoku e Benten ganham um pouco mais de destaque do que Goggles na narrativa, talvez porque o último trabalhe mais nos computadores como auxiliar das perigosas missões.

Pois é, a parte boa acaba aqui. Claro que não se pode exigir conteúdo profundo em um anime de ação, mas o mínimo que se espera é que a história e os combates sejam suficientemente interessantes para prender a atenção, o que não ocorre. As motivações dos criminosos, as soluções mirabolantes e dramalhões inacreditáveis são alguns dos problemas, os quais, auxiliados por uma trilha sonora horrenda que parece ter sido feita para um filme pornô, transformam Cyber City Oedo 808 em um anime sem força alguma. As coisas acontecem na tela, pessoas morrem, muita ação aparece a todo o momento, mas em nenhum momento pinta aquela interação verdadeira entre personagens, história e o espectador, em grande parte por causa do ritmo capenguérrimo, especialmente no primeiro OVA, disparado o mais fraco de todos.




Cyber City Oedo 808 evolui ao longo dos episódios, e o OVA 3 chega quase a ser realmente bom, com uma animação inacreditável e uma trama que, embora exagerada, até que consegue deixar o espectador com os cabelos em pé. Mas quando Goggles se mostra o mestre da Química e realiza uma proeza capaz de deixar MacGyver corado de vergonha, e hora de jogar a toalha e deixar pra lá. Assistir Cyber City Oedo 808 não chega a ser uma experiência dolorosa, e alguns momentos realmente bons até merecem ser conferidos. Se tiver tempo, assista, você não vai morrer por causa disto, mas existe muita coisa melhor por aí.


PS: Até onde eu sei, uma "espadada" na espinha seria suficiente para deixar uma pessoa paraplégica, mas não avisaram isto ao pessoal que produziu a série, hehehe...


Marcelo Reis


 

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