quarta-feira, fevereiro 13, 2013

Eternal Family (TV)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 04/10/2008.

Alternativos: Eikyuu Kazoku
Ano: 1997
Diretor: Koji Morimoto
Estúdio: Studio 4ºC
País: Japão
Episódios: 1
Duração: 28 min
Gênero: Comédia



Nunca achei que fosse falar algo parecido de uma obra do Studio 4ºC, mas animezinho chato este tal de "Eternal Family"! Apesar de contar com o sempre talentoso Koji Morimoto em várias funções (direção, desenho de personagens, desenho de produção e roteiro, este último ao lado de Dai Sato) e de ter uma direção de arte psicodélica e sublime, cortesia de Hiroshi Kato (Neon Genesis Evangelion, GITS-SAC), "Eternal Family" acaba sendo bem inferior a outras obras igualmente ensandecidas como FLCL ou Dead Leaves.

Em "Eternal Family", um programa criado no mundo virtual se torna uma febre entre a população da Cidade da Confusão. Neste programa, originalmente criado pela Agência Superintendente Geral para analisar a eficiência de um Sistema de Controle dos Cidadãos, párias eram recolhidos nas ruas e obrigados a viver como famílias. Estas pessoas, que sempre tiveram uma vida muito dura, recebiam novas memórias para que pudessem viver como uma família de verdade. Tocando normalmente o seu dia-a-dia, estas pessoas não sabem que estão sendo monitoradas e acreditam que só existe aquele tipo de vida, nem imaginando que há um mundo do lado de fora daquelas paredes.

Mas buscando ganhar um dinheirinho extra, a Agência vende as gravações para uma emissora de TV, fazendo com que a vida daquelas pessoas seja transmitida em tempo real para toda a população e transformada em diversão descartável, algo bem exemplificado pelas várias descargas dadas num vaso sanitário que aparecem a todo momento no anime. O que importa é que as engrenagens continuem girando sempre pois, afinal, o show não pode parar.

E quem são estas pessoas, afinal de contas? A tão famosa "Família Eterna" é composta por Hanada Ben, o desesperado chefe de família que adora sua boneca inflável; sua esposa, A-Ko, sempre faminta e com falta de ar; a filha mais velha, Akiko, divorciada, vidrada em fogo e sempre em busca do ex-marido; o filho mais velho, Sasuke, viciado em armas e experimentos científicos; a filha mais nova, Sae, geralmente entediada e que tem como amiga a pequena marionete em sua mão esquerda; e ainda o bebê Michael, alucinadíssimo e louco para cortar o rabo do cão Tamasaburo, animalzinho capaz de inchar e soltar um latido demolidor.


Em linhas gerais, o anime basicamente se encarrega de mostrar o dia-a-dia da família em fragmentos alucinados, cuja existência é justificada apenas para gerar mais lucro à emissora de TV. A possibilidade de que estas pessoas possam sumir no mundo exterior gera situações que levam a obra a adotar uma postura de crítica ao totalitarismo e à imbecilização do grande público, mas sem acertar o alvo em nenhum momento, por vários motivos.

Primeiramente, o anime é desesperado em excesso, e este comentário vem de uma pessoa que quase babou de delírio com "Dead Leaves" e "Mindgame". Há muita gritaria, muitos efeitos de luz e cores e um humor exagerado e sem timing que fazem "Eternal Family" parecer ser muito mais demorado do que seus parcos 28min. Originalmente criado como uma série de 53 vinhetas curtíssimas e exibidas na TV japonesa, "Eternal Family" se torna muito chato quando assistido numa única sentada. Outro problema são os personagens, cujo desespero e gritaria impedem que o público tenha qualquer tipo de apego a eles. A exceção é Sae, a única personagem que se comporta de forma mais ou menos parecida com um ser humano... os demais são esquizofrênicos em excesso.

Claro que falar da parte técnica num anime do Studio 4ºC é até maldade. Neste aspecto, "Eternal Family" é um primor em todos os quesitos, merecendo destaque o abuso de cores para se criar um ambiente psicodélico, além da maravilhosa arquitetura usada no visual da "Cidade da Confusão". O desenho de personagens é meio estranho, como de hábito na maioria dos trabalhos de Koji Morimoto, mas isto pode ser considerado um aspecto positivo, pois fica longe da mesmice visual tão comum a grande parte dos animes atuais. A esquizofrenia fragmentada de "Eternal Family" dificulta a apreciação da trilha sonora de Chiko Kawachi, que se não chega a merecer grande destaque, possui alguns temas agradáveis.



"Eternal Family" não pode ser considerada uma obra execrável mas é, de longe, o anime mais chato produzido pelo Studio 4ºC até o momento. No final das contas, o enredo tenta mostrar que mesmo uma família louca e descabeçada é melhor do que família alguma, mas em se tratando de personagens tão chatos num ambiente tão irritante, quem se importa?


Marcelo Reis


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