quinta-feira, fevereiro 14, 2013

Hades Project Zeorymer (OVA)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 13/04/2006.

Alternativos: Zeoraima - Project Hades; Meiou Keikaku Zeorymer
Ano: 1988
Diretor: Toshihiro Hirano
Estúdio: AIC / ARTMIC
Episódios: 4
Duração: 29 min
Gênero: Ação / Drama / Mecha / Sci-Fi



Mesmo tendo uma curta existência (pouco mais de 16 anos), a Rede Manchete foi, de longe, a emissora que mais contribuiu para a popularização do anime em nosso país. É verdade que as Redes Record, SBT e Tupi já passavam clássicos como Fantômas, A Princesa e o Cavaleiro, Speed Racer e Heidi nas décadas de 70 e 80, mas foi realmente com a Manchete que começou a surgir um número maior de adoradores desta forma de animação tão diferente daquela realizada nos Estados Unidos. Obras como Patrulha Estelar (Uchuu Senkan Yamato), Pirata do Espaço (Groyzer-X) ou Don Drácula ficaram marcadas de forma indelével na mente de milhares de pessoas ao redor do país.

Foi graças a este primeiro "boom" de animes lançados no início da década de 80 pela Manchete que outras obras de sucesso como Zillion e Macross (com o nome de Robotech) chegaram às telinhas brasileiras. Mas o grande estouro dos animes entre a grande massa veio mesmo na década de 80, com dois dos títulos mais cultuados até hoje em nosso país: Cavaleiros do Zodíaco e Yuyu Hakusho. Pode-se dizer que estes dois títulos, ao lado de "Akira" e dos primeiros animes lançados por "fansubbers" em VHS, formaram praticamente 90% da massa "otaku" existente no país até hoje.

E por que toda esta conversa mole? Porque além de CDZ e Yuyu Hakusho, a Manchete ainda se deu ao luxo de lançar, nesta mesma época, um horário especial chamado "U.S. Mangá", no qual exibia séries de OVAs originalmente lançado pela distribuidora "U.S. Manga" nos Estados Unidos. Para quem estava acostumado a assistir na TV obras com animações e trilhas sonoras mais simples, era simplesmente um desbunde ver animes como Detonator Orgun, Genocyber ou Zeorymer, cuja qualidade técnica não deixava dúvidas quando ao elevado nível da animação como um todo dentro do Japão.

Zeorymer foi, de longe, uma das mais populares séries exibidas dentro do "U.S. Mangá", com destruidoras batalhas entre "mechas" capazes de deixar qualquer um de queixo caído. Produzido entre 1988 e 1990 pela Toshiba EMI e Youmex, e com animação a cargo da famosa AIC, ao lado do ARTMIC Studios, Hades Project Zeorymer foi baseado no mangá homônimo de Chimi Maruo, pseudônimo utilizado por Yoshiaki Takaya, autor do também famoso "The Guyver". Enquanto o mangá possuía um fortíssimo apelo sexual, tendo até mesmo cenas explícitas, o anime foi bem suavizado neste aspecto.

A história mistura muitos elementos e chega até a ser bem complexa, se compararmos com a média dos animes semelhantes criados à época. Uma organização secreta chamada Tekkoryu (Hau Dragon), sediada na China, age por baixo dos panos tendo como fachada a poderosa empresa de programação "International Electronic Brains", e busca o domínio do mundo. A Tekkoryu ressurge das cinzas após 15 anos de paralisação, com o surgimento da nova líder, Yuratei. Tendo sob seu domínio os poderosos Hakkenshu, 8 robôs gigantes que representam as forças da natureza e comandados por pilotos fora-de-série, a missão primordial de Yuratei é recuperar o super-robô Zeorymer dos Céus, roubado alguns anos antes pelo agente duplo Masaki Kihara e levado para o Japão.

Neste meio-tempo, o adolescente Masato Akitsu é capturado de forma violenta por uma organização japonesa e forçado por eles a pilotar Zeorymer. Jogado de cabeça em uma realidade completamente nova, Masato é informado que toda a sua vida pregressa foi baseada em mentiras, e pilotar Zeorymer é sua única opção de vida para o futuro. Por alguma razão, Zeorymer é o único dos "Hakkenshu" que precisa de dois pilotos para ser comandado, um homem e uma mulher, os quais vêm a ser justamente Masato e uma misteriosa garota chamada Miku Himuro.


Para uma série de "mechas" de apenas 4 OVAs, Hades Project Zeorymer é surpreendemente complexo e pé-no-chão na maior parte do tempo, merecendo elogios por ser um dos poucos animes do gênero que tem uma explicação plausível e convincente para justificar a presença de um adolescente no comando de um robô poderoso. E engana-se quem acredita que toda a história se baseia apenas na batida premissa "organização quer dominar o mundo e destruir tudo". Zeorymer pega um pouquinho de tecnologia em rede e adiciona pitadas de engenharia genética em um enredo que, dependendo do ponto de vista, pode até mesmo ser encarado como um bom estudo de personagens. Supreendente, não?

Mas, no fundo, o que realmente marca o espectador ao assistir a Zeorymer é sua excelência técnica. A equipe de produção conta com muita gente boa, a começar pelo diretor Toshihiro Hirano (Vampire Princess Miyu OVA, Dangaioh) e pelo roteirista Noboru Aikawa (Hakkenden, Vampire Princess MIyu OVA). Um anime de "mechas" precisa de um bom desenhista mecânico, e o excelente trabalho realizado na criação dos "Hakkenshu" ficou a cargo não de um, mas três desenhistas altamente gabaritados: Hideki Kakinawa (Bubblegum Crisis), Kimitoshi Yamane (Argento Soma, Escaflowne) e Yusuhiro Moriki (Seikai no Monshou, Seikai no Senki)... só fera! E o que dizer do marcante desenho de personagens e da animação absurdamente fluida, respectivamente criado e dirigida por Michitaka Kikuchi. Antes que alguém comente que o trabalho dele se parece muito com o de Kia Asamiya (Nadesico, Detonator Orgun), a explicação que também me pegou de surpresa: ambos são a mesma pessoa (!!). Michitaka Kikuchi é o nome real de Kia Asamiya, o qual usa o primeiro para suas obras de animação, e o segundo para seus trabalhos em mangás (Obrigado à Anime News Network pela informação!). A trilha sonora de Eiji Kawamura (Kamen Rider, Black Jack) dá um tom épico às batalhas, mesmo sem possuir um tema central bem marcante.

Zeorymer possui excelentes batalhas entre robôs, com muita, mas muita destruição, sem respeitar os humanos ou as construções que estão por perto. Quando dois "Hakkenshu" se preparam para o "quebra-pau", pode saber que o resultado será assustador. A expressividade dos personagens merece destaque, especialmente no caso de Masato Akitsu, o qual, ao assumir o comando de Zeorymer, mostra saber mais do que seria esperado... dá para perceber que o personagem é o mesmo, mas a mudança de expressão nestes momentos é nota 10.

Infelizmente, Zeorymer tem muitos e graves problemas. Por não ter sido um sucesso no Japão, tem-se a nítida impressão que os 2 OVAs finais foram mais acelerados que os 2 primeiros. Se é louvável a atitude dos produtores em manter o nível da animação inalterado até o final, esta decisão prejudicou sobremaneira a fluidez narrativa da série. Zeorymer é aparentemente um anime simplista de destruição e luta do bem contra o mal mas, no fundo, o enredo pega bem mais fundo. Os personagens não são nada maniqueístas, e a distinção entre quem está certo ou errado é muito sutil. Mas a narrativa acelerada prejudica o impacto, tirando a força dos combates ou mesmo das motivações dos personagens. Mesmo nos OVAs iniciais, existe uma mania de cada personagem conversar antes de atirar, explicar tudo o que está fazendo, uma verdadeira overdose de "papo-aranha" que não leva a nada, sem contar alguns "segredos" revelados ao longo da narrativa que só um lesado-mor não perceberia de antemão. Nem falo nada do final exagerado e besta, que nem bem começa e já acaba, deixando o espectador com cara de panaca, a boca aberta, babando e pensando... "huh?".

E meu lado chato não pode deixar de comentar duas coisas, uma do lado crítico, outra do lado "curiosidade do dia". Primeiro, por mais que as batalhas sejam boas, elas não passam a emoção dramática necessária por um motivo simples: Zeorymer pode tomar porrada a luta inteira, mas na hora em que junta suas 3 bolinhas de energia no peito, tchau e benção para os adversários. Em outras palavras: aconteça o que acontecer, ele não perde nunca. Segundo, é realmente muito engraçado ver os supercomputadores de uma mega-empresa como a International Electronic Brains serem inteiramente programados em BASIC!! Hehehehe, que nostalgia... me lembrou os bons tempos do MSX...


Para os fãs brasileiros, Zeorymer possui um carisma especial por ter aparecido por aqui em um momento de total carência de bons animes. Após ter contato com outras obras, é fácil perceber que o valor nostálgico deste anime é maior que o valor real do mesmo, o qual merece ser visto, no mínimo, pelas incríveis cenas de destruição e pela animação tradicional superfluida, mas que não passa de uma obra mediana no final das contas. Além disto, Zeorymer peca por não se definir como um anime-cabeça ou anime-porrada: sua parte profunda pode ser monótona para quem quer pura ação, mas não é suficientemente intrigante para segurar a atenção de quem procura algo mais estimulante para a cabeça. Ah, mas existe uma outra razão para assistir, como pude me esquecer! Que outro anime possuiria um robô com um nome tão indescritível quanto "Rose C'est La Vie da Lua"? ^__^"


Marcelo Reis


 

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