quinta-feira, fevereiro 14, 2013

Kousetsu Hyaku Monogatari (TV)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 15/11/2004.

Alternativos: Requiem from the Darkness, Hundred Stories
Ano: 2003
Diretor: Hideki Tonokatsu
Estúdio: Tokyo Movie Shinsha
País: Japão
Episódios: 13
Duração: 22 min
Gênero: Fantasia / Shounen / Mistério



É notória a dificuldade em se criar obras de terror ou comédia que realmente consigam cumprir os seus objetivos de, respectivamente, assustar ou fazer rir o público a que se destinam. A maioria dos filmes, livros ou peças de teatro que se encaixam nestas categorias provocam apenas sustinhos bestas ou sorrisos amarelos e passageiros. É de se louvar, portanto, a capacidade do roteirista Sadayuki Murai (Perfect Blue, Sennen Joyu) e colegas em criar uma obra que equilibra de maneira notável o horror absoluto com algumas situações hilariantes.

Hyaku Monogatari (Cem Estórias) é um anime baseado na obra homônima de Kyougoku Natsuhiko, a qual é constituída, obviamente, por 100 estórias curtinhas de terror ligadas a entidades fantasmagóricas, eventos inexplicáveis e afins. Na adaptação de Sadayuki Murai & Cia, o personagem central é Momosuke, um rapaz cuja vasta cultura é diretamente proporcional à sua capacidade de se comportar de maneira exageradamente bondosa e idiota. Momosuke herdou de sua família uma das melhores lojas de velas de Edo (Tóquio), mas resolveu abandonar os negócios e deixar tudo para o clérigo-chefe da cidade, para que pudesse realizar o seu sonho: tornar-se escritor. Momosuke decide viajar pelo interior do Japão para coletar estórias e lendas de terror entre a população, até que consiga organizar uma antologia com 100 pequenos contos assustadores.

Momosuke não poderia imaginar que sua busca por tais estórias o jogaria de cabeça num universo verdadeiramente demoníaco, ao se encontrar fortuitamente com os membros do Ongyou, um grupo encarregado de fazer a justiça divina nos casos em que os culpados não merecem perdão, tamanha a sordidez de seus crimes. Os três membros do Ongyou são Mataichi, um monge que vende simpatias para proteção contra espíritos malignos; Ogin, um bela mulher que é mestre de marionetes; e Nagamimi, um gigantão de aparência assustadora, com a capacidade de modificar a sua forma. Apesar de representarem a justiça divina, os membros do Ongyou agem de forma implacável na hora de castigar os responsáveis por crimes hediondos e imperdoáveis. Ao saber dos planos de Momosuke para escrever um livro de terror, os membros do Ongyou levam o pobre rapaz a uma viagem pelo mundo das trevas e demonstram, aos poucos, que o verdadeiro horror se encontra aqui mesmo, no mundo dos vivos, e que o lado obscuro da alma humana é capaz de coisas mais assustadoras que qualquer estória de além-túmulo.


Fácil perceber que um anime no qual os "heróis" não hesitam em matar sem piedade não pode ser um anime normal. Apesar do comentário inicial sobre algumas cenas realmente bem-humoradas, especialmente no relacionamento entre Momosuke e os membros do Ongyou, o clima geral de Hyaku Monogatari é aterrorizante, com algumas seqüências de violência impressionantes, imagens e sons distorcidos, e uma combinação estranhíssima de cores, criando um ambiente de outro mundo. O início dos episódios em geral são pesadíssimos, e mostram de cara que esta série não deve, de forma alguma, ser apresentada a espectadores facilmente impressionáveis.

Tecnicamente o anime não é nenhuma obra-prima. O trabalho de arte é muito bom, com traços distorcidos e cores estranhas, mas a animação propriamente dita é um pouco tosca. Para ser sincero, prefiro um anime tecnicamente mediano mas com um enredo cativante do que uma obra visualmente impecável e sem conteúdo algum (Hein? Alguém falou Nazca?? Ninja Ressurection?). A trilha sonora não fede nem cheira: existe, compõe bem o ambiente, e ponto final.

Assim como acontece em grande parte dos animes para a TV, cada episódio possui uma estória específica (sobre terror ou maldição), mas existe um tema central que, verdade seja dita, é bem fraquinho. Enquanto o anime focaliza a jornada de Momosuke e seus amigos pelo mundo das sombras, o andamento é quase impecável, exceto por alguns ataques "mala" do protagonista, o qual também se revela um alívio cômico às vezes desnecessário. A coisa complica de vez rumo ao fechamento, com 3 episódios finais que, apesar de assustadores, são acelerados ao extremo, com explicações e acontecimentos bestas que jogam por água abaixo tudo o que ocorrera anteriormente. Mais um anime que sofre com a recente epidemia da "síndrome do final ruim".



Não me entendam mal. Quando disse que o final joga tudo por água abaixo, não quis dizer que o anime como um todo seja um lixo, muito pelo contrário. Pouquíssimas obras audiovisuais, sejam elas animes ou não, conseguiram criar um clima tão surreal e assustador quanto Hyaku Monogatari. As justificativas para o que acontece ao longo da estória são pífias, é verdade, mas não conseguem apagar as fortes sensações de medo e terror experimentadas junto a Momosuke e os membros do Ongyou. E isto, meus amigos, não tem preço.


Marcelo Reis


 

3 comentários:

  1. Eu achei esse anime muito confuso. Ele é muito rápido com as informações durante cada episódio. Fiquei boiando bastante em vários deles. Gostaria de vê-lo dublado.

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    1. A sensação que tive também foi esta, Rodolfo. Eu gostei demais do clima de terror que ele passa, mas a história em si e a narrativa deixam muito a desejar.

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  2. Pra mim, réquiem e um dos melhores animes. Foge totalmente dos animes "tradicionais", entretanto, há muitos erros. E poderia ter sido um excelente anime de uns 22 episódios.

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