Ano: 2008
Diretor: Vários
Estúdio: Studio 4ºC
País: Japão
Episódios: 1
Duração: 76 min
Gênero: Comédia / Sci-Fi / Adulto
Conforme o explicado na resenha de "Genius Party", das 14 animações que entrariam no projeto original do Studio 4ºC, sete acabaram ficando de fora. Duas delas não chegaram a se concretizar ("Le Manchot Mélomane", do francês Nicolas de Crécy, e um projeto sem título de Hiro Yamagata), mas as outras cinco, que já haviam sido finalizadas à época do lançamento de "Genius Party" em 2007, acabaram sendo lançadas um ano depois, numa segunda coletânea denominada "Genius Party Beyond".
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Gala (direção de Mahiro Maeda)
Num local que lembra as ilhas paradisíacas do Pacífico Sul e habitado por seres pitorescos que convivem em harmonia entre si, algo semelhante a um gigantesco meteoro colide com o solo, causando uma tremenda destruição. Curiosos, os habitantes da região tentam abrir aquele objeto a todo custo, mas Ko-Oni, um garoto com um chifre na cabeça, e Aporabou, uma garota com asas e sempre tocando uma harpa, entram em sintonia com o suposto meteoro e percebem que se trata de uma entidade viva. Um velho doidão revela aos jovens que uma antiga profecia está se realizando, e que aquela entidade se manifestará espontaneamente, se for acalmada com músicas.
"Gala" não possui a mesma criatividade visual que a obra-prima dirigida por Mahiro Maeda, "Gankutsuou", mas a qualidade da animação tradicional faz jus à fama do Studio 4ºC, com cenários belíssimos e personagens que se movem com extrema fluidez. Com um enredo que preconiza a resolução de problemas através da harmonia e criatividade, "Gala" não é uma obra muito envolvente, especialmente por ter uma narrativa meio ensandecida e com um senso de humor esquisito. Mas seu excelente final, que fecha perfeitamente todo o quadro, dá um peso todo especial a tudo o que havia sido retratado nos minutos anteriores.
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Moondrive (direção de Kazuto Nakazawa)
Numa cidade localizada na Lua, quatro jovens delinqüentes entediados e loucos por grana ouvem falar da existência de um tesouro escondido, e se envolvem em inúmeros apertos ao longo de sua jornada para encontrá-lo.
Este fiapinho de história nada original é apenas uma desculpa para uma animação insana e muito engraçada, com aspectos que lembram muito "Dead Leaves", da Production I.G. Com um traço expressivo e sujo, "Moondrive" é protagonizado por um grupo de fracassados que se acham os maiorais, o que se torna ainda mais engraçado em função de seu líder possesso e com uma voz de trovão que não combina com seu físico mirrado.
"Moondrive" possui um problema sério que pode incomodar muita gente: a única mulher do grupo é literalmente usada e abusada sem parar, tratada como um mero objeto sexual e, para piorar, ainda gosta do tratamento que recebe. É uma obra muito divertida, sem dúvida, mas que acaba sendo prejudicada por este sexismo exacerbado e por seu enredo bem chinfrim.
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Wanwa the Puppy (direção de Shinya Ohira)
Um menino brinca com uma máscara de ogro, tentando animar a mãe doente num quarto de hospital. De repente, ele se vê num mundo maluco, com lojas de doces e picolés gigantes. Acompanhado de seu cãozinho, o garoto explora este mundo bizarro enquanto é perseguido por um ogro gigante que quer comer tudo o que vê na frente, inclusive o próprio garoto.
"Wanwa the Puppy" possui um visual de cores chapadas e traços simples, que lembram desenhos infantis feitos a lápis e tinta guache, e uma animação criativa e refinada. Com uma temática que lembra um pouco "Happy Machine", do primeiro "Genius Party", "Wanwa the Puppy" acaba exagerando nas viagens visuais e se tornando meio cansativo, além de ter um final muito esquisito e que se alonga além do necessário. Merece ser visto, é claro, pois representa muito bem a imaginação fértil de uma criança, mas não é um anime que dá aquela vontade de rever.
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Toujin Kit (direção de Tatsuyuki Tanaka)
Numa cidade industrializada, fria e impessoal, uma garota passa os dias entediada, comendo e assistindo TV num lugar abandonado e deprimente. Seu quarto possui uma estante repleta de bichos de pelúcia e, num cantinho, uma máquina estranha que parece tentar ressuscitar um sapinho de pelúcia, pelo qual a garota aparenta nutrir uma afeição especial.
Informado pelos vizinhos da garota, um agente do Governo e seus sentinelas-robôs chegam para averiguar aquela situação irregular, uma vez que brinquedos são considerados objetos nocivos e alienígenas. Afinal, num mundo triste e vazio, no qual as pessoas são apenas engrenagens numa máquina, qualquer coisa que estimule a alegria, a inocência e o amor à vida deve ser banida.
"Toujin Kit" possui um colorido sépia que realça o clima de desolação do anime, algo que se torna mais evidente pela ausência de trilha sonora e pela pequena quantidade de diálogos. Esta obra possui um estilo de animação mais tradicional e, como de hábito em obras do Studio 4ºC, com uma integração incrível entre 2D e 3D, merecendo destaque uma seqüência em que o agente utiliza sua visão de "raio-x" nos bonecos de pelúcia da estante.
É uma obra seca, diferente, que deixa um gosto amargo ao final.
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Dimension Bomb (direção de Koji Morimoto)
Fantástica animação do genial Koji Morimoto, diretor de "Magnetic Rose" (Memories) e "Beyond" (Animatrix), tão diferente e viajante que fica até difícil fazer uma pequena sinopse, já que não existe muito consenso por aí sobre do que se trata realmente a história. Uma explicação muito comum encontrada na internet diz que um garoto rompe uma barreira dimensional e se encontra com uma garota do outro lado, passando pelas situações mais alucinadas possíveis.
Pessoalmente, tive uma outra impressão. Um dos fundadores do Studio 4ºC, Koji Morimoto é conhecido por criar obras que exploram aspectos psicológicos dos personagens, que não sabem se estão vivenciando algo real ou imaginário. Em "Dimension Bomb", um garoto vive numa realidade dura demais para ser tolerada, na qual é considerado um esquisitão, e acaba criando um mundo interior totalmente novo, no qual pode extravasar todas as suas emoções sem medo de ser tolhido ou censurado. O problema, logicamente, é que encarar o mundo real depois de tudo isto pode ser muito, muito doloroso.
"Dimension Bomb" já mereceria elogios fartos apenas por seu enredo aberto, que não entrega tudo mastigadinho ao espectador, mas Koji Morimoto não é de se contentar com pouco, e resolveu entregar logo a melhor entre todas as 12 obras do projeto "Genius Party". Animação perfeita a cargo de seqüências viajantes e muito criativas, com tomadas de câmera que desafiam a lógica, tudo isto usado em nome da história, e não apenas como firulas pirotécnicas. E como um complemento às viagens visuais, temos a trilha sonora eletrônica quase minimalista de Juno Reactor, conhecido dos fãs de animes por suas contribuições em "Texhnolyze" e "Animatrix".
Experimental, criativo e tecnicamente impecável, "Dimension Bomb" tem tudo o que se espera de uma obra do Studio 4ºC, e não poderia haver um anime melhor para fechar esta ótima antologia.
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Ainda que não possua tantas animações individualmente excelentes quanto "Genius Party", "Genius Party Beyond" é melhor e mais equilibrado em sua totalidade, além de nos trazer esta verdadeira obra-prima chamada "Dimension Bomb". Altamente recomendável para quem curte animações experimentais de alto nível, e imperdível para os fãs do Studio 4ºC.
Marcelo Reis
Marcelo, parabéns pela sua resenha de 'Genius party Beyond'
ResponderExcluirComentando "Dimension Bomb", vejo que foi a que mais te chamou a atenção também, eu fiquei colado do início ao fim. Na verdade dizer fim é mentir, eu fiquei viajando para além do fim, não houve fim para mim.
Criei várias teorias sobre o que poderia ser/representar a cheguei a conclusão de que todas são plausíveis. Falando de uma delas, trata-se de uma bomba dimensional que liga todos os personagens, ou seria 'desliga todos'? rs, desde o robô, passando pela senhora e os dois garotos e todos os outros. Esta bomba dimensional, dimensão é tão prazerosa que todos os personagens fazem de tudo para voltar a ela, mas não é tão fácil, ai a garota fica dançando o tempo todo tentando acessar o extase que lhe permitiu adentrar a dimension bomb, o garoto da bicicleta fica se acidentando com o mesmo objetivo, a senhora medita com o mesmo objetivo e o robô fica olhando para a sua esfera de luz visando o mesmo objetivo. nesta dimensão tempo e espaço se cruzam e tornam-se nada e tudo ao mesmo tempo. rs
Beleza, Hei?
ResponderExcluirHehehe, sua explicação foi viajadíssima, hein? ^__^
Mas este é o grande barato de "Dimension Bomb", é possível ter várias interpretações, e nenhuma delas provavelmente vai abarcar todas as nuances do que realmente acontece.
Um abraço!
Dimension bomb para mim e um arquitipo da "tragedia da vida humana"...
ResponderExcluirPara mim dimension bomb representa a tragetoria de um garoto e sua evolucao. passando por maus tratos, enigmas. Dores e amores . Ele esta perdido dentro de si mesmo. com toda confusao. tentando a todo custo se liberta ; quando ele percebe o que esta alem do bem e do mal....
Saudações!
ResponderExcluirDimension Bomb é primorosa. Aberta a todo o tipo de interpretação, mas com a mensagem final de que o indivíduo quer ser aceito, amado, acolhido. Enquanto vive introspecto, o garoto trava contato com a menina extrovertida, alegre e descolada. Ela apresenta um mundo de experiências e aceita o amigo como ele é. A sensação que tenho é que a história é contada de forma não linear, mostrando momentos dos dois antes de se conhecerem e depois. Ouso afirmar que o momento em que a garota parece ter uma dor de cabeça terrível é indício de que pode ter morrido em algum momento da vida do garoto, algo que me foi sugerido na louca corrida de bicicleta em que ele cai e se machuca, grita "Isso dói", mas não é a dor física e sim de seu coração, do amor e da perda. Tudo sugere a dor do crescimento, do amadurecimento para a vida, dos encontros e perdas e no fim a aceitação, como a cena onde escuridão e luz, inverno e verão dividem a mesma cena, tendo o garoto ajoelhado entre os dois e curiosamente, um anjo e um demônio flutuando acima dele, de mãos dadas,em reconciliação.
Koji Morimoto e sua mente brilhante nos brinda com essa animação fantástica!
Ufa!