terça-feira, fevereiro 12, 2013

Avenger (TV)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 30/03/2005.

Ano: 2003
Diretor: Koichi Mashimo
Estúdio: Bee Train / XEBEC
País: Japão
Episódios: 13
Duração: 30 min
Gênero: Aventura / Fantasia / Sci-Fi



Não é preciso ser muito perspicaz para notar que o mercado de animes ao redor do mundo está amadurecendo. E não digo isto apenas em relação ao aumento contínuo no número de fãs e às cifras milionárias cada vez maiores que envolvem este mercado. Digo, também, que o próprio fã de anime está amadurecendo, ficando adulto, fazendo com que produções mais sérias sejam realizadas em maior quantidade a cada ano que passa. "Shounens" e "shoujos" puros ainda têm seu lugar, já que o público infantil e adolescente responde pela maior fatia do mercado, mas os adultos têm marcado presença cada vez mais evidente em termos quantitativos e financeiros.

O problema é que, assim como no mercado para o público jovem, contam-se nos dedos as produções mais sérias que realmente merecem ser assistidas. Para cada Kino no Tabi ou Planetes que aparece no mercado, existem dezenas de séries insossas e sem personalidade que apenas reciclam à exaustão situações e histórias contadas anteriormente em outras produções. Avenger (2004) é um anime que se encaixa com perfeição nesta classe de produções dispensáveis que tentam, de forma pífia, parecer mais complexas e originais do que realmente são.

Em um desolado planeta Marte, constantemente assolado por fortes tempestades de areia, a população vive em um estado de penúria, com escassez de provisões e uma política governamental altamente repressora e violenta. Para evitar um agravamento desta complicada situação em função do aumento populacional, os governantes proibiram de forma radical a procriação. Por esta razão, nos últimos 10 anos, nenhuma criança nasceu em Marte.

Para contornar a situação, os casais passaram a criar bonecos externamente idênticos a crianças de verdade, mas com reações emocionais falsamente fabricadas por circuitos computadorizados. Estes bonecos (ou simplesmente "Dolls") não crescem, não morrem e, se apresentam algum defeito, podem ser consertados por profissionais capacitados ou simplesmente jogados no lixo, sem remorso. Neste caso, basta solicitar um novo boneco ao governo para substituir o "filho" recém-falecido.


Um detalhe importante a respeito da política em Marte: cada vilarejo ou cidade é governado por um "Lutador Representativo". Desafios oficiais são promovidos de tempos em tempos em cada cidade, e apenas os melhores lutadores se arriscam a enfrentar uma luta feroz que pode custar a própria vida. O vencedor se torna o tal "Lutador Representativo", devendo distribuir os bens à população e governar a região sob sua responsabilidade de acordo com as normas estabelecidas por Volk e Westa, líderes máximos de Marte e últimos representantes dos "Doze Originais". Vale lembrar que combates são comuns em Marte, mas apenas os desafios oficiais valem o título de Lutador Representativo.

Layla Ashley é uma exímia lutadora que participa de alguns torneios (sempre vencendo de forma irrefutável), mas que evita passar pelas cidades, talvez para evitar a participação desnecessária em algum desafio oficial. Layla odeia os "Dolls" por alguma razão mas, ainda assim, viaja acompanhada de Nei, uma bela e expressiva boneca loura com um olho de cada cor e com a qual tem uma relação quase maternal. Layla, apesar de humana, é fria e sem expressão, parecendo não ter vontade de viver, enquanto Nei, apesar de ser apenas uma boneca, parece ser mais sentimental que Layla. Nei possui um problema sério: é uma boneca sem registro, uma "Stray Doll". De acordo com as regras vigentes em Marte, toda boneca deve ser devidamente registrada: do contrário, será sumariamente eliminada. Por esta razão, Layla e Nei viajam sem poder parar, pois sabem que qualquer descuido significará a destruição de Nei.

Ao longo da viagem de Layla e Nei pelo desolado planeta Marte, somos apresentados a um enredo que é uma verdadeira colcha de retalhos mal-acabada, abusando de clichês e lugares comuns de forma constrangedora. Pessoas predestinadas, protagonista antipática e mal-educada, eventos misteriosos do passado que se refletem de forma violenta no presente, um "segredinho" pra lá de chôcho e tudo mais que vier em sua cabeça em termos de obviedades. A trama envolve um monte de conversa mole relacionada a culpa, vingança e uma inevitável tragédia que se abaterá sobre o planeta, culminando em um final chôco, enrolado e muito ruim! Aliás, enrolação é a palavra que melhor se encaixa na definição deste anime, pois ao longo dos 13 episódios somos apresentados a uma seqüência interminável de closes longuíssimos, cenas repetidas, muito papo-furado e monotonia para dar e vender. Tudo isto regado por uma trilha sonora eletrônica (Ali Project) que, apesar de muito boa (o tema de abertura, "Grand Guignol", é excelente), é pra lá de excessiva. Não existe praticamente nenhuma cena em Avenger sem uma música muito alta no fundo... um pouquinho de silêncio teria sido muito mais adequado em algumas cenas mais contemplativas. Tentem imaginar uma cena de enterro com um Goa-Trance acelerado ao fundo para entenderem a idéia.



Avenger é um anime muito fraco, que salva-se apenas pela costumeira competência do estúdio Bee Train. Mesmo sem chegar ao nível de excelência presente em .hack//SIGN, Noir e Arc the Lad, a animação e o trabalho de arte em Avenger é muito bom, com um ótimo uso de cores nos cenários de fundo, personagens expressivos e com uma movimentação bem detalhada e fluida, especialmente nas cenas de lutas. Pena que os produtores da Bandai Visual se esqueceram que é necessário muito mais do que belos visuais e uma boa trilha sonora para se fazer um bom anime. Avenger é chato e pretensioso, e possui um enredo que vai do "nada" para "lugar algum" com extrema competência. E, acreditem, isto não é nem de longe um elogio.


Marcelo Reis


 

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