terça-feira, fevereiro 12, 2013

Atama-Yama (Movie)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 04/12/2009.

Alternativos: Mt. Head
Ano: 2002
Diretor: Koji Yamamura
Estúdio: Yamamura Animation
País: Japão
Episódios: 1
Duração: 10 min
Gênero: Comédia / Fantasia



"Atama-Yama" é mais um curta-metragem japonês de animação que fez bonito nos festivais de cinema ao redor do mundo mas que, infelizmente, ainda é pouco conhecido em nosso país. Além de ter vencido como melhor curta-metragem no famoso Festival Internacional de Animação de Annecy (França) em 2003, "Atama-Yama" também foi premiado nos festivais de Hiroshima (Japão), Leipzig (Alemanha) e Zagreb (Croácia) e foi indicado ao OScar 2003 de Melhor Curta de Animação (perdeu para "The ChubbChubbs!", dos EUA). Nada mal para uma obra feita praticamente por um só artista, Koji Yamamura, responsável pela direção, CGI, animação, design, edição e arte-final.

"Atama-Yama", também conhecido como "Mt. Head" nos EUA, conta a história de um cara muito "mão-de-vaca" que cata tudo o que vê jogado na rua. Mesmo estando com sua casa abarrotada pelo lixo que cata na rua, nosso protagonista não consegue se controlar e continua dando uma verdadeira "limpa" nas ruas da cidade, sempre embalado por sua frase favorita: "Que desperdício!"

Certo dia, enquanto comia um monte de cerejas que havia acabado de "coletar" do asfalto, o sovina logicamente acha um desperdício jogar fora os caroços da cereja e acaba comendo tudo. Em função disto, uma cerejeira começa a nascer em sua cabeça, gerando uma seqüência de situações surreais que transformam sua vida num verdadeiro inferno.


O roteiro de Shoji Yonemura (Berserk, Death Note, Guin Saga), se não chega a ser particularmente profundo em sua crítica à avareza, é brilhante na criação de momentos altamente bizarros, e mostrando de forma muito original a idéia de uma pessoa que, literalmente, se afunda em si mesma. Um detalhe inusitado é o fato do anime ser narrado como um "nagauta", acompanhamento musical geralmente usado no teatro "kabuki", no qual um ou mais cantores narram uma história enquanto tocam o "shamisen", instrumento tradicional de cordas japonês.

O talento de Koji Yamamura é fundamental para transformar em imagens as idéias tresloucadas de seu roteirista. Totalmente feito a lápis, "Atama-Yama" possui um traço mais sujo e detalhado, com uma animação fluida e tomadas de câmera nos ângulos mais inusitados. Em determinado momento, por exemplo, o personagem principal sai correndo desesperadamente, e é incrível a perfeição da água escorrendo no rosto do protagonista, ainda mais se imaginarmos o trabalho que deve ter sido criar tudo isto usando apenas lápis.

O desenho de personagens não tem nada a ver com o que estamos acostumados a ver em animes, e lembram um pouco o estilo criado por Sylvain Chomet em seu premiado longa-metragem "As Bicicletas de Belleville". Não é um "chara design" exatamente bonito, mas é muito expressivo. O personagem principal, em especial, possui uma feição muito detalhada, um fator importante se levarmos em conta que seu rosto aparece em close mais da metade do tempo.



Com um final excelente, algo cada vez mais raro nos animes da atualidade, "Atama-Yama" demonstra o alto nível dos animadores japoneses independentes, os quais nem sempre conseguem divulgar suas excelentes obras da forma que gostariam. Para quem anda cansado de assistir a animes longos, repetitivos e cheios de clichês, "Atama-Yama" é exatamente o oposto: curtinho, direto e passa longe dos lugares-comuns.


Marcelo Reis


 

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