quarta-feira, fevereiro 13, 2013

Eve no Jikan (ONA)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 21/05/2010.

Alternativos: Time of Eve
Ano: 2008
Diretor: Yasuhiro Yoshiura
Estúdio: Studio Rikka
País: Japão
Episódios: 6
Duração: 15 min
Gênero: Drama / Sci-Fi



Série de ONAs (Original Network Animation) produzida entre 2008 e 2009, "Eve no Jikan" é uma obra realizada por praticamente a mesma equipe responsável por "Pale Cocoon", não por coincidência, uma animação do mesmo Studio Rikka. Mais uma vez, Yasuhiro Yoshiura é a força-motriz por trás do projeto, ficando a cargo da direção, argumento e roteiro da obra. Mas se "Pale Cocoon" foi quase obra de um homem só, "Eve no Jikan" já conta com a participação de mais pessoas, e isto pode ser facilmente notado por seu acabamento bem mais profissional. Uma peculiaridade a respeito de "Eve no Jikan": a série foi oferecida gratuitamente ao público via "streaming" através do site Crunchyroll, numa parceria oficial com o Studio Rikka.

No futuro, talvez no Japão, os robôs se tornaram comuns, e andróides começam a se popularizar. Identificados por um halo na cabeça, estes andróides automatizam grande parte da produção alimentícia, gerando fartura de alimentos para a população humana. Isto logicamente gera protestos de algumas pessoas, que pressionam a população em geral para consumir apenas alimentos produzidos manualmente. Os humanos em geral tratam os andróides sem afeição alguma, chegando a ser grosseiros na maior parte do tempo, pois os consideram apenas como "coisas", e não como seres sencientes.

Um fenômeno que se torna cada vez mais comuns é o chamado "androidholic", jovens totalmente dependente de andróides. Solitários, sem amigos, eles tratam seus empregados andróides, ou "houseroids", como se fossem humanos. Este é o caso do adolescente Rikuo, que tem um relacionamento muito próximo com sua andróide Sammy, quase como se ela fosse sua mãe. Um comportamento bem diferente de seu amigo Masaki, que desconfia de tudo o que se relaciona ao universo dos andróides.

Os andróides devem seguir as Três Leis da Robótica criadas por Isaac Asimov, e todos os seus movimentos são registrados num banco de dados. Rikuo acaba descobrindo um padrão estranho nos registros de Sammy, como se em alguns momentos do dia ela agisse por vontade própria, e resolve investigar o ocorrido ao lado de Masaki. Ambos descobrem um bar chamado "Eve no Jikan", um local de encontro onde não há preconceito entre humanos e andróides. Como o halo na cabeça dos andróides some dentro deste bar, é impossível saber quem é humano e quem é andróide. Assim, um lado pode conhecer o outro, sem as amarras e preconceitos existentes no mundo exterior. O bar é dirigido pela faladeira e energética Akiko, que alega ter criado o local para conhecer melhor os andróides. A grande dúvida é: estariam o bar e seus frequentadores violando as Leis da Robótica de Asimov?


Cada OVA da série se ocupa de um caso específico, mas existe uma história central que une todos eles. Temos os "sexdroids", andróides cirados apenas para satisfação sexual dos humanos e que são considerados mitos. Ou o triste destino dos robôs sem mestres, que são devolvidos às fábricas e desmontados. Rikuo e Masaki vão tomando conhecimento destes casos ao longo da série, e enquanto Rikuo quer compreender o que acontece, Masaki está mais interessado em investigar, pois tem certeza que há algo de podre no ar. Cada situação vivenciada pelos amigos não apenas os ajuda a entender melhor o espírito do "Eve no Jikan" mas, ainda, a refletir sobre o porquê de cada um deles ter certos comportamentos tão arraigados. Por que Rikuo, uma criança-prodígio no piano, simplesmente parou de tocar de uma hora para outra? E por que Masaki tem esta desconfiança quase patológica dos andróides?

"Eve no Jikan" se passa num futuro sem exageros tecnológicos, o que aproxima sua ambientação do presente em que vivemos. O painel virtual de fotos, por exemplo, é uma idéia muito interessante, pois é ao mesmo tempo futurista e plausível. O visual dos ambientes é bem realista, o desenho de personagens é expressivo e bem diferenciado, e a qualidade da animação no geral é muito boa, ainda que ocorram alguns "pulos" na imagem, especialmente quando há um movimento simultãneo dos personagens e da câmera. Mas em se tratando de uma série de ONAs, está bom demais.

Há um equilíbrio notável na narrativa de "Eve no Jikan", com momentos dramáticos e cômicos se alternando com fluidez. Há um episódio em especial, sobre um robô obsoleto, que é hilário na maior parte do tempo (com direito até mesmo ao tema musical de "O Exterminador do Futuro"), mas que oferece os momentos mais tocantes de todo o anime. Os personagens são simpáticos e bem construídos, fugindo dos clichês tão comuns em outras obras. Rikuo é curioso, bom aluno, mas não é um bobalhão que acredita em tudo cegamente. Masaki, apesar de desconfiado, não é um cara chato e insuportável, e dá para perceber que, no fundo, ele quer compartilhar da visão otimista de seu amigo Rikuo, mas não consegue. O espectador vai se envolvendo aos poucos com o enredo e com os personagens, sempre em busca de respostas a algumas dúvidas. Por que o comportamento dos andróides é diferente no bar? E se humanos e andróides nascem "vazios" e vão aprendendo as coisas ao longo do tempo, que diferença real existe entre ambos?

"Eve no Jikan" sai um pouco dos trilhos no que diz respeito a uma intriga política em seu enredo, a qual é apresentada de forma corrida e pouco marcante. Há um "Comitê de Ética no Uso de Robôs" que parece ter importância vital no enredo, mas acaba não fazendo tanta diferença assim, entre outras coisas. Mas no geral, o anime é muito bem feito e com uma história bem fechadinha.




Com um "The End" acompanhado de interrogação que dá margem a uma possível continuação, "Eve no Jikan" é uma grande surpresa. Ainda que se foque em temas amplamente discutidos em obras como "Ghost in the Shell", por exemplo, "Eve no Jikan" tem brilho próprio, justamente por priorizar as relações entre andróides e humanos, ao invés de se focar em demasia nos aspectos filosóficos e técnicos. Afinal, competir com Masamune Shirow nesta área seria até covardia.

OBS: Assistir os créditos do último ONA até o final.

"Are you enjoying the Time of EVE?"


Marcelo Reis


 

4 comentários:

  1. Um anime que me surpreendeu. Bem feito. Curiosa a questão sobre os robôs serem mais humanos do que os próprios humanos.

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    1. É um bom anime, sem dúvida, principalmente por se concentrar mais no aspecto humano do relacionamento entre os robôs e as pessoas.

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  2. O ser humano sofre ação direta do evolucionismo e os androides sobre ação indireta. Seria uma possível resposta.

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    1. Seria uma resposta possível, sim, Mauro: nunca tinha pensado nisto por este ângulo.

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