quinta-feira, fevereiro 14, 2013

Gunparade March (TV)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 15/11/2004.

Alternativos: Gunparade March: Aratanaru Kougunka
Ano: 2003
Diretor: Katsushi Sakurabi
Estúdio: J.C. Staff
País: Japão
Episódios: 12
Duração: 24 min
Gênero: Mecha / Guerra / Sci-Fi



Série de 12 episódios, produzida em 2002/2003 pelo estúdio Genco e com animação a cargo da sempre eficiente J.C.STAFF, Gunparade March é um anime baseado em um jogo homônimo lançado para o Playstation. Mesmo sendo uma série acima da média, se comparada a outros animes com temática semelhante (aliens que invadem a Terra, jovens controlando mechas, etc), Gunparade March ainda fica a anos-luz de animes clássicos, como as séries do universo Gundam ou Evangelion.

1945. O mais terrível ser vivo já encontrado invade a Terra. A humanidade forma uma coalizão para expulsar os invasores mas, infelizmente, a mais poderosa arma de destruição já criada pelos humanos não afeta os invasores e ainda contamina todo o planeta com cinzas e fumaça. Os invasores logo ficaram conhecidos como "Phantom Beasts", e a humanidade começou uma longa e desgastante batalha pela sobrevivência.

A estória de Gunparade March começa para valer quase 50 anos após estes eventos, mais precisamente em julho de 1999, em uma escola preparatória de cadetes localizada na cidade de Kumamoto (Japão). Numa manobra desesperada para tentar conter a invasão alienígena de todas as formas e salvar a Terra, é criado o serviço militar voluntário para jovens de 16 anos, como forma de aumentar o contingente de soldados prontos para combate.

Atsushi Hayami é um estudante desta escola, e em função de seu comportamento lerdo e desligado, é conhecido entre os colegas pela alcunha de "Poyayan" (cabeça vazia). Junto de seus amigos Setogushi Takayuki ("boy" metido a garanhão, mas um cara muito bacana e extremamente otimista) e Takigawa Youhei (descabeçado e possessão), Hayami tenta levar os treinamentos da melhor forma possível, apesar de sua notória incapacidade em realizar as mais simples tarefas. A chegada de Shibamura Mai à escola causa um verdadeiro turbilhão entre os estudantes. Ricaça, filha do presidente da poderosa Shibamura Heavy Industries, Mai é o extremo oposto de Hayami: super eficiente em todas as tarefas, mostra desde o início que não está ali para brincadeiras e possui problemas sérios de relacionamento com os outros colegas, principalmente com a eficiente rival Mibuya Mio e, claro, com o inepto Hayami. Estes conflitos pessoais serão uma constante na vida dos estudantes, ao mesmo tempo em que precisam esquecer suas diferenças e combater o inimigo comum, no caso, os alienígenas.


Gunparade March possui algumas características que o destaca de outros animes semelhantes. O primeiro episódio, mostrando os eventos que levaram a esta situação desesperadora, é excepcional, com algumas situações realmente dramáticas e memoráveis. Se a série seguisse este tom na maior parte do tempo, seria uma obra-prima com letras maiúsculas. A razão pela qual os mechas são pilotados por jovens é bem convincente e, o principal, a maneira como o roteiro lida com a morte é muito legal, sem resvalar para a pieguice mas deixando bem claro que cada pessoa vale muito, e cada perda é sentida para valer. Muitas séries mostram os jovens pilotando mechas como se fosse a coisa mais "cool" do mundo: isto não acontece em Gunparade March. Os jovens, ao ingressar cedo na vida militar, perdem muito do que a vida tem a oferecer, e são obrigados a amadurecer rapidamente. Outro detalhe muito interessante: ninguém é predestinado a ser o herói ou se torna o "fodão" de uma hora para outra. É preciso trabalhar e estudar muito para se destacar, seja como piloto, co-piloto ou auxiliar.

Com excelentes batalhas espaciais, uma trilha sonora dramática que arrepia em alguns momentos e um clima sombrio que se instala de vez a partir do 4o episódio (intercalado, é claro, por muitos alívios cômicos), Gunparade March peca de forma imperdoável em um quesito importantíssimo: personagens principais muito desinteressantes. Claro que este não é o único pecado da série: existem outros, como a tremenda encheção de lingüiça em vários episódios, o ritmo capenga e errático em outras partes, e a estranha decisão do roteiro em abandonar completamente as batalhas no finalzinho, centrando o foco nos possíveis relacionamentos amorosos e transformando um anime dramático e sombrio em um estranho "pseudo-shoujo". Estes problemas incomodam um bocado, é verdade, mas não são nada quando comparados à chatice dos estereotipados personagens principais. Atsushi Hayami é exageradamente bonzinho, lerdo em excesso, comporta-se como um retardado nas situações mais simples e parece apenas saber pedir desculpas o tempo todo. Shibamura Mai, por outro lado, é insuportavelmente chata e mal-educada, se achando a "mega-foderosa" e tratando aos companheiros como lixo. Claro que tudo tem uma razão de ser no comportamento de ambos (como sempre!), e as coisas mudam um pouco ao longo do tempo, mas fica muito difícil você torcer por dois protagonistas tão chatinhos e "malas-sem-alça".



Esta focalização no relacionamento de Shibamura e Atsushi prejudica muito a série. Os demais personagens são muito carismáticos e possuem problemas muito mais interessantes que os protagonistas. A série teria sido muito melhor se o foco da estória houvesse sido centrado nestes personagens e nas dramáticas batalhas que acontecem ao longo da série (infelizmente, em pequena quantidade). O produto final é bom, não há dúvidas, mas fica aquela sensação amarga de que poderia ter sido muito melhor.


Marcelo Reis


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