quinta-feira, fevereiro 14, 2013

Koi Kaze (TV)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 15/11/2004.

Alternativos: Love Wind
Ano: 2004
Diretor: Takahiro Omori
Estúdio: A.C.G.T.
País: Japão
Episódios: 13
Duração: 23 min
Gênero: Drama / Romance


Um anime cujo tema central gira em torno de uma possível relação incestuosa entre irmãos. É, vocês não leram errado: Koi Kaze é um dos mais belos e corajosos animes dos últimos anos, abordando um tema espinhoso como o incesto de uma forma ao mesmo tempo ousada e delicada. O último anime que abordou os relacionamentos amorosos de maneira tão realista e cativante talvez tenha sido o excepcional Boys Be, mas Koi Kaze consegue ser ainda melhor e mais abrangente, mostrando que, além do romantismo, a atração física e os desejos sexuais também são fundamentais dentro de uma relação. A grosso modo, pode-se dizer que Koi Kaze é extremamente bem-sucedido nos aspectos em que Kimi ga Nozomu Eien, outro anime com uma abordagem ousada, decepcionou bastante.

Koshiro Saeki, um homem de 27 anos que trabalha em uma agência matrimonial, acaba de receber uma notícia que ninguém gostaria de ouvir: sua namorada lhe revela, sem meias palavras, que tem outro homem (Uau!). Mas, ao contrário do que seria esperado, Koshiro não explode de raiva nem parte para as ofensas verbais. Externamente ele aceita tudo numa boa, sem expressar nenhuma emoção mas, no fundo, sua alma está em frangalhos. Isto parece ser algo normal na vida do fechado Koshiro, que tem uma tremenda dificuldade para externar seus sentimentos, ficando com estas sensações desagradáveis presas dentro de si.

Enquanto curtia uma fossa brava, Koshiro se encontra com Nanoka Kohinata, uma bela garota de 15 anos, com personalidade expansiva e conversa franca. Ambos haviam se visto de relance no trem um pouco antes e, ao se cruzarem na estação (Koshiro fôra devolver a identidade de Nanoka, que havia caído no chão), foram recebidos por um forte vento carregado de pétalas (seria o tal "Koi Kaze", o "Vento do Amor"?). O sorriso de Nanoka naquele momento, com os cabelos balançando ao vento, não saiu da cabeça de Koshiro. Neste segundo encontro fortuito, Koshiro cria coragem e convida Nanoka para tomar um sorvete no parque enquanto ela aguarda a chegada do pai. Conversa vai, conversa vem, Nanoka confessa a Koshiro que teve uma desilusão amorosa, e que seu sorriso na estação de trem fora o primeiro em muitos dias. Koshiro também conta a ela sua história e, surpreendentemente, consegue colocar a emoção para fora e chora copiosamente nos ombros de Nanoka.


Se a possibilidade de um relacionamento entre um homem de 27 anos e uma garota de 15 já seria um baita de um tabu, imaginem quando esta mesma possibilidade diz respeito a dois irmãos? Pois é, Koshiro e Nanoka na verdade são irmãos, separados quando ela era ainda muito nova, à época do divórcio de seus pais. Nanoka viveu com a mãe em uma pequena cidade do interior, mas veio morar com o pai para continuar os estudos na cidade grande. Koshiro morava com a antiga namorada em um apartamento mas, após a separação, volta temporariamente à casa do pai, para viver junto a ele e Nanoka...

Pois é... situação realmente complicada!

Antes de falar sobre a beleza do enredo de Koi Kaze, é preciso dizer que este anime é primoroso nos aspectos técnicos. Koi Kaze não é nenhum "eye-candy" na linha dos animes do Gonzo, Madhouse ou Bones, sempre com efeitos e animações de cair o queixo. A alta qualidade da animação é percebida nos pequenos detalhes, como na sutil e delicada movimentação corporal e facial dos personagens. A trilha sonora é suave e deliciosa, seguindo uma linha semelhante à trilha instrumental de Boys Be e dando o clima perfeito às situações dramáticas e românticas que acontecem no decorrer da série.

Mas é na estória que Koi Kaze se destaca de forma sublime. Os personagens são carismáticos e possuem motivações reais e convincentes por trás de seus atos. Seus relacionamentos são expostos de forma bem realista, evitando cair nos clichês, e os sentimentos que surgem não são nada forçados. Desde o início, percebe-se que existe algo mais do que "amor de irmãos" no relacionamento de Koshiro e Nanoka, e a dificuldade de ambos em lidar com a situação é de partir o coração. Seria realmente amor este estranho sentimento que surge entre eles, ou apenas uma atração física passageira? Deveriam eles continuar seguindo as regras impostas pela sociedade, ou valeria a pena jogar tudo para o alto e mandar os tabus às favas? É interessante notar, ainda, como a visão do amor por parte de Nanoka é mais ingênua e infantil, enquanto a visão de Koshiro, mais adulta, é ainda romântica mas possui uma conotação sexual bem mais evidente.



Nas mãos de pessoas incapazes, Koi Kaze poderia ter descambado para a apelação e situações embaraçosas. Felizmente os roteiristas e o diretor da série tiveram a capacidade de andar sobre este terreno minado sem saírem feridos, conseguindo a proeza de fazer com que mesmo uma cena de masturbação se tornasse dramática e coerente com a história. Mas talvez o grande mérito da equipe por trás de Koi Kaze tenha sido a habilidade em retratar uma história tão polêmica da forma mais isenta possível, sem julgar se o que acontece ao longo da série é certo ou errado. Os fatos estão ali, e fica a cargo da consciência do espectador decidir se aprova ou não o que acabou de presenciar. Polêmicas à parte, não dá para negar que Koi Kaze é, disparado, um dos grandes animes de 2004. Imperdível!


Marcelo Reis


 

3 comentários:

  1. Estou com uma dúvida moral agora: o amor deve superar qualquer barreira ? O incesto no mundo animal é o mesmo do ser humano? Ele, que é mais velho, foi inconsequente?

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    1. Cara, complicada a questão aqui. Pessoalmente, não sei se o amor deve superar qualquer barreira, especialmente num caso como o de Koi Kaze, que provalmente se encaixaria no perfil de abuso de incapaz. Eu adorei o anime, mas esta questão específica me incomodou muitíssimo.

      A questão do incesto me incomoda menos, e neste caso, sim, se o envolvimento diz respeito a dois adultos totalmente capazes, a decisão deveria dizer respeito apenas a eles e a mais ninguém. No caso de Koi Kaze, pelo menos pra mim, a questão do abuso de incapaz acaba colocando o incesto em segundo plano.

      E respondendo à sua pergunta: sim, acho que ele, como irmão mais velho, foi inconsequente.

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  2. Kico, antes de mais nada, me desculpe a demora em responder. Eu falei sobre isto em respostas que dei a outros comentários... ano complicado de obras, entre outras coisas, e se não fosse a Cátia segurando a onda no Facebook, e o Heider escrevendo alguns textos de vez em quando, o site estaria realmente paradaço.

    Enfim, só queria lhe agradecer pelos elogios à resenha mas, principalmente, pelo excelente comentário postado. E, de certo modo, minha sensação foi mais ou menos a mesma do pensamento que você tem a respeito do anime.

    Um grande abraço!

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