Alternativos: Nitaboh: Tsugaru Shamisen Shiso Gaibun
Ano: 2004
Diretor: Akio Nishizawa
Estúdio: WAO! Corporation
País: Japão
Episódios: 1
Duração: 90 min
Gênero: Drama / Histórico
Primeira animação da WAO! Corporation, "Nitaboh" é um belo anime baseado no romance histórico de Daijo Kazuo, o qual é inspirado numa história real. É interessante falar um pouco mais sobre a WAO! Corporation e seu criador, Akio Nishizawa, antes de entrarmos na resenha propriamente dita, uma vez que toda a abordagem usada na narrativa deste anime reflete exatamente a proposta desta companhia. A WAO! Corporation é um enorme conglomerado educacional japonês que resolveu investir no mercado de animação com o intuito de entreter e educar os jovens ao mesmo tempo. Akio Nishizawa, criador e presidente do grupo WAO!, é responsável pelo roteiro e direção deste anime, e a equipe de produção conta com nomes de peso, como Junichi Takaoka (diretor de animação em Dual e Bubblegum Crisis) e Koujirou Hayashi (diretor de fotografia em Trinity Blood e Gantz). As vitórias de "Nitaboh" nos festivais de animação de Vancouver (Canadá) e Seul (Coréia do Sul) mostram que a ousada proposta de entretenimento inteligente de Akio Nishizawa e da WAO! Corporation foi mais do que acertada.
O Governo de Edo, iniciado em 1603, havia se deteriorado ao final do século XIX, e seus problemas estruturais internos tornavam este período propicio para o surgimento de uma nova era. Os samurai perderam o poder durante a Reforma Meiji e, com isto, alguns passaram a criar problemas e a roubar. Os exércitos do antigo xogunato e do atual governo continuavam a lutar por todo o país, e é em meio a esta situação turbulenta, mais especificamente no ano de 1865, na cidade de Keioh (norte de Honshu) que conhecemos o garoto Nitaroh, o qual é mostrado como um exemplo para os jovens, pois superou uma vida duríssima e cheia de problemas para se tornar o criador do estilo Tsugaru do shamisen (instrumento de cordas japonês).
E "vida duríssima" aqui é pouco para descrever as agruras passadas pelo pobre Nitaroh: para não estragar muito a surpresa, basta dizer que este garoto de origem humilde perdeu a mãe, uma tocadora de shamisen, um ano após o seu nascimento e foi criado sozinho pelo pai, um barqueiro chamado Santaroh. Um dos poucos sobreviventes de uma violenta epidemia que matou muitas crianças alguns anos antes, Nitaroh acabou perdendo a visão repentinamente com apenas 8 anos de idade. E todo este sofrimento não é nem o princípio do verdadeiro martírio passado pelo garoto, que precisou enfrentar a pobreza extrema e preconceitos de todo tipo para conseguir sobreviver com dignidade, alegria e se expressar através do shamisen sem ser tolhido por idéias preconcebidas, pela inveja nem por regras tradicionais ultrapassadas.
Seguindo a vida de Nitaroh desde a infância até a vida adulta, o anime ainda aproveita para mostrar eventos importantes ocorridos neste momento de transição do país, durante o qual a capital mudou o nome de Edo para Tóquio e muitas mudanças começaram a ser inseridas no cotidiano japonês: ferrovias e prédios no estilo ocidental passaram a ser construídos, jornais começaram a ser publicados. Como estas mudanças não foram nada gradativas, houve uma tremenda dificuldade da população em se adaptar aos novos tempos e desafiar tradições antigas.
Além da parte histórica, "Nitaboh" ainda mostra vários tipos de artes e sons tradicionais do Japão, como o gidayu (teatro de bonecos) e, claro, a prática do shamisen. Em relação ao último, é muito interessante ver um anime mais realista como este, no qual Nitaroh vai se tornando melhor no que faz com muita prática e dedicação, e não por ser um predestinado ou coisa parecida. Num Japão atual no qual termos como "neet" (algo como "sem emprego, educação ou prática") e "hikikomori" (isolamento voluntário em seus próprios aposentos) vêm se tornando a triste realidade de grande parte dos jovens japoneses, uma obra assim é mais do que bem-vinda.
Tecnicamente, "Nitaboh" é um anime maravilhoso, e já mostra isto na seqüência inicial, na qual é feito um belíssimo zoom no mapa do Japão a partir de um ponto bem alto até chegar a uma pequena casinha na beira de um rio. Todo o estilo visual da época é muito bem recriado, tudo com um colorido de muito bom gosto e sem exageros e com muita atenção dedicada ao uso de luz e sombras. Merece destaque também o cuidado nos movimentos labiais, os quais realmente representam o que está sendo dito. Isto é notado com mais destaque numa seqüência em que Tamana-san, uma tocadora cega de shamisen, canta uma música maravilhosa para uma família. Os diálogos também refletem bem o estilo da época, com uso abundante do honorífico e, claro, sem nada de gírias.
A parte sonora é um detalhe importante, já que o som do shamisen é onipresente durante quase todo o tempo. Para fazer bonito, Akio Nishizawa contratou ninguém menos que Hiromitsu Agatsuma, jovem tocador do Tsugaru Shamisen que venceu dois concursos nacionais consecutivos deste instrumento e é considerado um verdadeiro gênio no assunto. O cara é fenomenal, e seu talento dá toda a credibilidade necessária para convencer o público da verdadeira inovação que foi a criação deste estilo tão diferente e poderoso por parte de Nitaroh. O anime possui ainda uma bela trilha orquestral composta por Makoto Kuriya e conduzida por Masamichi Amano, já famoso aqui no Animehaus por participar apenas de animes horrendos como "Sin, the Movie" e "Ninja Resurrection". Finalmente minhas preces foram ouvidas, e Amano-san colocou seu imenso talento a serviço de uma obra à sua altura.
"Nitaboh" tinha tudo para ser uma obra-prima irrepreensível, mas esbarrou justamente na inexperiência de Akio Nishizawa como roteirista e diretor, o que causou sérios problemas de ritmo em vários momentos do anime. Algumas partes dramáticas não têm o efeito necessário, muitas vezes a música entra em momentos nada a ver, e há um certo abuso de "fade-out" nas transições entre as cenas. Esta narrativa quadrada e burocrática tira muito da força do anime, e fica a grande torcida para que Akio Nishizawa tenha conseguido encontrar um melhor equilíbrio na segunda obra da WAO! Corporation, "JAPAN, Our Homeland", já que também assumiu os cargos de roteirista e escritor nesta obra.
Mesmo com estes probleminhas, "Nitaboh" é uma grata surpresa, um anime que se adequa perfeitamente à proposta da WAO! Corporation de "educar e entreter", o que é ainda mais bem vindo ao percebermos que Akio Nishizawa é um educador de cabeça aberta, nem um pouco ufanista e que estimula a criatividade e a individualidade de cada um. Não deixem de ler o texto que aparece após os créditos, pois o seu contéudo reflete muito bem a linha de pensamento do criador da WAO! Corporation. Que venham mais e mais animes deste estúdio, de preferência com a parte narrativa um pouco mais afiada, já que, em termos de conteúdo, não há do que reclamar.
Marcelo Reis
Excelente texto!
ResponderExcluirBrigadão, Estrela! Fico feliz que tenha gostado. ^_^
ResponderExcluirestou a meses procurando legenda para esse filme e não encontro!!! toco shamisen e muitos do meu curso me indicaram...mas eles falam japones! eu não =( Sabe onde eu posso achar ?
ResponderExcluirOlá, Mandinha. Aqui tem o filme online com legendas em espanhol: qualidade mediana, mas acreedito que dê para assistir sem problemas
Excluirhttp://anime100por100.blogspot.com.br/2013/06/nitaboh-el-maestro-de-shamisen.html
Um abraço!
Marcelo
Em BR http://sub-shinigami.blogspot.com.br/2015/03/nitaboh-filme.html
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