Alternativos: Makai Tenshou
Ano: 1998
Diretor: Yasunori Urata
Estúdio: Phoenix Entertainment / Production I.G. / Studio DEEN
País: Japão
Episódios: 2
Duração: 30 min
Gênero: Violência / Adulto / Histórico
Que tal começarmos o texto com uma pequena historinha? Pois bem, vamos exercitar a mente e colocar a imaginação para funcionar. Pensem em uma criança insuportavelmente chata, o protótipo do diabinho infantil, um pedacinho de gente que não respeita ninguém, não pára de gritar, briga com todo mundo e não tem a mínima noção de educação. Imaginem, agora, em meio a uma movimentada festa infantil, um momento sublime no qual você tenha a chance de passar apenas alguns segundinhos a sós com este pestinha, longe da vista das outras pessoas. Nesta hora, algum "espírito ninja zombeteiro" subitamente se apossa de seu corpo e, "sem perceber" (ironia, ironia...), você consegue derrubar o copo de refrigerante do "anjinho", dar-lhe aquele sutil puxão de cabelo, uma leve "dedada" no olho e, para completar, uma bela e cinematográfica rasteira. Claro que, após a evasão do "espírito ninja zombeteiro" de seu corpo, você vira cinicamente para a gentil criancinha (agora em prantos) e, com uma expressão de assombro, diz, com naturalidade: "Querido, me desculpe! Foi sem querer! Você se machucou?". Sua alma certamente se encontra num estado de êxtase indescritível... que beleza!
Já sei, já sei: "Mas que diabos esta história ridícula tem a ver com Ninja Resurrection??". Muito simples: assim como o "detonador de pestinhas" da historinha acima, não vou negar que estou sentindo um prazer quase orgásmico antes de escrever este texto, ante a possibilidade de destruir sem dó nem piedade este anime horroroso, uma das maiores abominações já criadas no mundo da animação. De vez em quando, é bom exercitar o lado mais obscuro e sacana de nossas almas, e este texto é a oportunidade perfeita!
Antes de continuar, um aviso para os mais incautos: ao contrário do que é constantemente alardeado por aí, Ninja Resurrection (Makai Tenshou) não é a continuação do ótimo longa-metragem "Ninja Scroll". Na verdade, Makai Tenshou não tem nada, mas absolutamente NADA a ver com "Ninja Scroll", exceto o nome semelhante de seus protagonistas (Jubei Kibagami, em Ninja Scroll, e o lendário samurai Jubei Yagyu, em Ninja Resurrection).
O lado mais triste em relação a Ninja Resurrection é que ele tinha tudo para ser um anime muito interessante, pois trata de um aspecto da história japonesa pouco conhecido entre a maioria das pessoas: a presença do Cristianismo no Japão. O enredo é inicialmente apresentado de forma muito realista, explicando as mudanças drásticas ocorridas no Japão após a batalha de Sekigahara, vencida por Tokugawa Ieyasu, e que resultou na unificação do país, consolidando o sistema do Xogunato. Com poder irrestrito e absoluto, Tokugawa sancionou leis que, entre outras coisas, proibiam a prática do Cristianismo no país. Os praticantes passaram a ser perseguidos, exilados e, muitas vezes, impiedosamente massacrados. O início de Ninja Resurrection mostra como as Cruzadas e as Guerras Santas sempre foram realizadas pelos motivos errados, deixando, em nome da religião, um rastro assustador de mortes e destruição.
Impressionante como um assunto tão rico e interessante se tranformou neste lixo em forma de anime, uma verdadeira "obra-prima" em termos de apelação e mau gosto. Não reclamo da decisão dos responsáveis por Makai Tenshou em apresentar o anime em uma atmosfera fantástica, repleta de lutas exageradíssimas e dispositivos ultra-modernos em uma época pré-Revolução Industrial. Isto atrapalha a força da história, sem dúvida, mas não incomoda a ponto de querermos parar de assistir à série imediatamente. Pena que o mesmo não possa ser dito do restante do anime.
Apesar de inicialmente falar sobre o Cristianismo no Japão, a história muda completamente de rumo, fazendo com que, de uma hora para outra, todas as pessoas em cena pareçam um bando de loucos interessados apenas em sangue e morte. Qualquer assunto ou conversa é razão para mais e mais seqüências de violência gratuita, impressionantes a ponto de transformar um anime como Berserk em um "conto da carochinha". Crianças são decapitadas, vísceras voam por todos os lados, e a história central torna-se apenas um mero detalhe.
A apelação desenfreada e o mau gosto completo, contudo, ainda não atingiram o ápice. É difícil imaginar como os familiares de famosos espadachins como Miyamoto Musashi, Mataemon Araki, Inshun Houzoin e Botaro Tamiya devem ter se sentido ao ver seus parentes famosos e, por tabela, o nome de suas famílias, intimamente ligados a uma obra que apela para cenas de necrofilia, estupros violentíssimos e, pasmem, até mesmo uma luta onde um dos combatentes ataca o oponente com o próprio intestino!!
A reação da opinião pública japonesa em relação a este anime deve ter sido violenta, pois Ninja Resurrection não chegou a ser finalizado. Apenas 2 dos 3 OVAs originalmente planejados foram lançados, e a história fica completamente no ar, ao final do segundo OVA. Não que isto faça realmente muita diferença, no final das contas.
Ninja Resurrection só não leva um belo e rotundo ZERO porque, justiça seja feita, possui (poucas) qualidades. Além da interessante premissa inicial, Ninja Resurrection possui uma animação excelente (Studio Deen e Production IG), algumas cenas de luta muito boas e uma trilha sonora excepcional, composta por Masamichi Amano. Neste aspecto em especial, é realmente muito triste ver uma trilha tão bela e grandiosa desperdiçada em um anime tão abominável.
Minha boa ação perante os fãs de animes está feita. Se quiserem assistir a este espetáculo megalomaníaco de profundo mau gosto, fiquem à vontade, mas não digam que não foram avisados.
Marcelo Reis
cara realmente e uma merda a forma que a historia muda de foco .. mas no fundo queria o 2 ovas faltantes.
ResponderExcluirAssino embaixo, Felipe. A história é uma merda por si só, mas incompleta fica ainda pior. ^__^
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