sábado, março 02, 2013

Freedom (OVA)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 02/03/2013

Ano: 2006
Diretor: Shuhei Morita
Estúdio: Sunrise
País: Japão
Episódios: 07
Duração: 6 x 25 min e 1 x 48 min
Gênero: Aventura / Romance / Sci-Fi


Série de OVAs produzida pela Sunrise e contando com a colaboração de Katsuhiro Otomo e Shuhei Morita, "Freedom" é o tipo de obra que, pelo menos no papel, tinha tudo para ser um anime memorável. Afinal, Shuhei Morita foi o responsável por "Kakurenbo", utilizando uma técnica de "cell-shading" que deu uma qualidade técnica notável a uma animação totalmente caseira. Katsuhiro Otomo dispensa comentários: basta assistir a "Akira" para ver do que ele é capaz, especialmente no tocante a projetos mecânicos detalhados e animação impecável. Juntar dois estilos tão distintos e ainda contar com a produção da Sunrise, notória por simplesmente arrebentar em animes baseados em mechas, espaço sideral e afins... realmente difícil segurar o entusiasmo!

Uma base lunar foi construída com o intuito de ser um ponto de partida para a futura colonização de Marte. Mas a queda de uma estação espacial na Terra levou à deterioração irreversível do meio-ambiente, e a guerra por recursos acabou ocasionando o fim da civilização: a Terra virou um planeta morto. A base lunar se transformou em colônia, de modo a garantir a sobrevivência da humanidade, e recebeu o nome de Projeto Éden.

100 anos depois, os humanos vivem dentro de seis imensos domos na Lua, numa utopia altamente controlada, de modo a manter os humanos sempre supervisionados, levando suas vidinhas calmas e estáveis de sempre. As pessoas devem se recolher aos seus dormitórios em horários pré-determinados, todos usam pulseiras eletrônicas que servem ao mesmo tempo como intercomunicadores e rastreadores, e câmeras de vigilância controlam cada cantinho da colônia.

É neste ambiente que vive Takeru, jovem de personalidade forte que, para fugir do tédio reinante em Éden, participa de corridas clandestinas de motos semelhantes a "hovercrafts". Acompanhado pelos amigos Kazuma e Bismarck, responsáveis também por darem os ajustes necessários à sua moto antes das corridas, Takeru usa sempre uma jaqueta branca de astronauta com o emblema do Projeto Apolo, sem imaginar que este projeto havia sido responsável por levar os pioneiros à superfície lunar, praticamente 300 anos antes.

Prestes a tornarem-se cidadãos plenos, os jovens precisam escolher uma carreira para toda a vida. E a cada pequeno delito cometido, como as tais corridas de moto, devem realizar "trabalhos voluntários" pelo bem da colônia, geralmente envolvendo a manutenção externa dos domos. E é numa destas missões externas que Takeru recebe uma mensagem inesperada, gerando milhares de indagações na mente do jovem sobre a verdade por trás das origens de Éden e da destruição da Terra.


"Freedom", como era de se esperar, usa a mesma técnica de "Kakurenbo" mas, desta vez, aliada ao excelente desenho de personagens e projetos mecânicos ultradetalhados de Katsuhiro Otomo. Muita coisa em "Freedom" lembra demais alguns aspectos de "Akira", como as corridas de motos entre gangues rivais, os cenários futuristas das cidades, os ambientes subterrâneos, e até mesmo algumas partes da trilha sonora, com percussões similares à utilizada por Geinoh Yamashirogumi na animação de 1988. Os efeitos sonoros são impressionantes, bem mixados e dão muita força ao que se passa em cena, em especial nas cenas de ação. Mesmo não tendo um orçamento tão alto quanto o de um longa-metragem, "Freedom" faz bonito nos aspectos técnicos.

Infelizmente, "Freedom" nao alcança a mesma excelência em termos de conteúdo. O início é promissor, a amizade entre o rebelde Takeru, o ponderado Kazuma e o medroso mas inteligente Bismarck é sincera e convincente, e dá para compreender perfeitamente a necessidade dos jovens de fugirem do tédio e do marasmo, e correrem atrás de seus sonhos. Mas o que começa com um pé na realidade logo se torna uma história totalmente implausível e manipuladora, com um excesso de altruísmo e melodrama, um roteiro repleto de inconsistências e diálogos expositivos, além de um péssimo equilíbrio entre dramalhão, comédia pastelão e ação exagerada.

Exagero? Bom, o que dizer de um jovem que resolve viajar da Lua para a Terra porque se apaixonou por uma garota que viu em uma foto? Ou de uma sociedade super controladora, capaz de monitorar toda a superfície da Terra a milhares de quilômetros de distância, mas que não sabe da existência de gigantescos foguetes escondidos dentro da "Freedom", uma corporação particular que seria a encarregada da colonização de Marte? Ou dos heróis que caem nas "ciladas" mais toscas da história, incapazes de enganar até mesmo um moleque babão? Ou a possibilidade de um rebelde e ex-detento se tornar, em menos de 3 anos, um membro da mais alta hierarquia e merecedor de confiança irrestrita dentro de uma sociedade dita "científica" e "inteligente"? Ou frases como: "Estamos levando a amizade, o amor e o espírito!" e "Todos que escaparam do tédio, morreram"?

Ainda daria para me alongar bastante nisto, mas prefiro ir logo ao que, disparado, é o fator mais irritante em "Freedom": A GRITARIA!!! Imaginem pessoas que GRITAM E GRITAM E GRITAM SEM PARAR por qualquer coisa! Se estão fugindo, GRITAM PRA FUGIR MAIS RÁPIDO! Se estão animados, GRITAM PARA DEMONSTRAR ANIMAÇÃO! Se estão apaixonados, GRITAM PARA DEMONSTRAR O SEU AMOR! Se estas palavras em maiúsculas te incomodaram, imagine o que é ouvir esta gritaria durante quase 4h de série? Isto, sim, dá vontade de pular pela janela, gritando SOCORRO!!!!!




Não digo que "Freedom" seja uma porcaria como "Sin, the Movie" ou "Nazca", longe disto. A história tem momentos interessantes e até emocionantes que, infelizmente, são estragados pelos defeitos citados acima. Vale a pena assistir a esta série pelo menos pelo visual, que é realmente impressionante, mas tendo em mente que o resultado final em termos mais abrangentes decepciona bastante. Ah, claro: usem protetores de ouvido quando forem assistir, para evitar surdez precoce com toda a gritaria.


Marcelo Reis


 

sexta-feira, março 01, 2013

Magic School Lunar (Movie)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 09/09/2007.

Alternativos: Magic School Lunar! Secret of the Blue Dragon; Mahou Gakuen Lunar! Aoi Ryu no Himitsu
Ano: 1997
Diretor: Akitaro Daichi
Estúdio: Toei Animation / J.C. Staff
País: Japão
Episódios: 1
Duração: 10 min
Gênero: Comédia / Fantasia


Quem já tem um pouco mais de estrada no mundo dos jogos e conheceu alguns consoles da geração 16-bits deve se lembrar do furor causado pelo surgimento dos primeiros jogos em CD. Títulos como YS I&II para o PC-ENGINE ou Popful Mail para o Mega CD (Sega CD nos Estados Unidos), com longas seqüências animadas e trilha sonora orquestral, pareciam uma coisa de outro mundo, em uma época na qual os jogos em cartucho mal possuíam uma ou outra imagem parada de anime e trilhas sonoras baseadas em "blips e blops" digitais.

Em relação ao Sega CD, uma das séries mais populares foi "Lunar", um excepcional RPG da Game Arts que apareceu ainda no Sega Saturn, Playstation, Game Gear, Game Boy Advance, Nintendo DS, existindo até mesmo uma versão para Windows. Para que este texto não se transforme numa resenha de jogos, basta dizer que, em se tratando de Japão, era só uma questão de tempo até que alguém resolvesse aproveitar o sucesso da série para tentar tirar uns trocados numa versão anime

Com produção da Kadokawa Shoten e Game Arts, distribuído pela Toei Animation e com animação a cargo da J.C. Staff, Magic School Lunar é baseado no jogo "Lunar: Walking School", originalmente criado para o Game Gear e que ganhou depois uma versão para o Sega Saturn. Neste jogo, o enredo se passa centenas de anos antes da história de "Lunar: Silver Story", título original do Sega CD que deu origem à série. Se bem que falar de enredo aqui é até sacanagem, porque ele simplesmente não existe, servindo apenas de desculpa para que os personagens do jogo apareçam em situações insanas.


A verdade é que Magic School Lunar tentou investir naquela linha de animes com milhões de "gags" por segundo e desenho de personagens SD "à la" Dragon Half, mas sem atingir metade da graça desta série. Basta ver o enredo fraquinho para se ter uma idéia: a malvada Barua seqüestra estudantes da Escola Mágica, os quais só serão devolvidos se a escola lhe entregar o Dragão Azul, fonte de grande poder. Como ninguém sabe que diabos é isto, as heroínas Elie, Lena e Senia recebem a missão de resgatar os estudantes e derrotar Barua e o grande líder cabeçudo Memphis.

É claro que em um anime baseado puramente em humor visual, um enredo legal não seja algo imprescindível, ainda que uma premissa como a de Dragon Half (garotinha filha de um cavaleiro e um dragão) seja bem mais instigante. E para não começar descendo a lenha de cara no anime, a parte técnica é muito boa, o que não é novidade alguma em se tratando da J.C. Staff, notoriamente o estúdio-mestre em se tratando de obras com animação exagerada, insana e que abusa de SD. Além disto, por ter sido produzido na mesma epoca de lançamento da versão de "Lunar: Walking School" para o Sega Saturn, o anime contou com os mesmos seiyuus do jogo, o que permite uma maior identificação com os fãs que já conhecem as vozes originais dos personagens.

O grande problema em Magic School Lunar é a falta de "timing" cômico, algo surpreendente em se tratando de uma obra dirigida pelo grande Akitaroh Daichi, famoso pela obra-prima "Now and Then, Here and There" mas que já mostrou ser um mestre da comédia em obras como "Kodomo no Omocha" e "Jubei-chan". Aqui, Daichi-san errou a mão, pois o ritmo da série é tão insano que nem dá para curtir direito o visual pirado e as gags que aparecem. Não que o anime seja sem graça, muito pelo contrário, já que o absurdo SD é tão bom que só mesmo um chato de galocha para não soltar nem uma mísera risadinha, mas a verdade é que a comédia é, de longe, o gênero que mais depende de um timing perfeito, e Akitaroh Daichi definitivamente não o encontrou. Para piorar, o anime comete o pecado supremo de tentar explicar com palavras TODAS as piadas visuais que aparecem. Nem bem o riso começa a aparecer na cara do espectador, vem a explicação verbal e quebra toda a magia do momento.



Magic School Lunar não é um anime horrendo, mas com seu humor visual sem timing, ainda que com um visual insano, é melhor gastar seu tempo assistindo a algo como Dead Leaves, FLCL ou Dragon Half. É claro que, em se tratando de um anime de apenas 10 minutos, a economia de tempo não será assim tão grande, mas com tantas coisas mais interessantes nesta mesma linha, por que se dar ao trabalho de ver algo tão medíocre?


Marcelo Reis


 

Perfect Blue (Movie)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 19/10/2002.

Ano: 1997
Diretor: Satoshi Kon
Estúdio: Madhouse
País: Japão
Episódios: 1
Duração: 80 min
Gênero: Drama / Mistério / Violência


Se existe uma coisa que irrita profundamente a todos nós, fãs de animes, é ouvir comentários como "anime é coisa para criança", ou "pra que perder tempo com esta bobagem?"! E não adianta tentar explicar que não é bem assim, que mangás e animes tem uma importância vital na cultura japonesa e são apreciados por pessoas de todas as idades... para os leigos, animes não passam de um ajuntamento de personagens de olhos enormes que só sabem gritar e fazer caretas. Para estas pessoas, a receita infalível é uma só: assistam Perfect Blue e salvem-se da ignorância! ^_^

Perfect Blue é um excepcional anime para adultos, baseado na novela escrita por Yoshikazu Takeuchi. Conta a história de Mima Kirigoe, líder da banda de J-Pop CHAM que abandona a carreira de cantora para se tornar atriz. Apesar dos protestos de sua produtora Rika Hidaka, outrora uma cantora pop como Mima e para quem a conciliação entre as duas carreiras seria o ideal, Mima decide seguir o caminho que, profissionalmente, parece ser o mais adequado... no caso, a carreira de atriz.

Ao tomar conhecimento do site "O Quarto de Mima", ela percebe que alguém sabe DEMAIS sobre sua vida e, ainda pior, vê que a mudança de rumo na carreira não agradou a todo mundo. Não é apenas o futuro profissional de Mima que está em risco... sua vida também está por um fio.



Contando com a direção magnífica de Satoshi Kon, também co-responsável pelo desenho de personagens, e um roteiro brilhante de Sadayuki Murai, Perfect Blue é daqueles animes para ficar na memória por muito tempo. Possui um visual incrível e super realista e uma animação fabulosa, com algumas tomadas de câmera impressionantes, especialmente nas seqüências mais agitadas. A história é muito complexa, e a alternância entre consciência e alucinação é feita com tamanha perfeição que nós mesmos, pobres espectadores, começamos a pirar do lado de cá! ^_^ A trilha sonora aumenta ainda mais a sensação de se estar dentro de um pesadelo.

Mima é uma personagem incrível. Linda e de aparência delicada, Mima precisa lutar para manter a sanidade frente às terríveis situações que tem que enfrentar. A parte psicológica de todos os personagens é muito bem trabalhada neste anime, no qual realidade e fantasia se misturam de forma marcante. Perfect Blue não é recomendado para pessoas muito jovens ou de estômago fraco, pois possui muitas cenas violentíssimas e impressionantes. Além disto a complexidade da história pode afastar um pouco quem procura apenas um anime para distrair a cabeça.



Perfect Blue é um senhor filme, obrigatório para qualquer pessoa que curta uma história bem escrita e com imagens antológicas. Depois de Perfect Blue, quero ver se alguém tem coragem de dizer que anime é uma bobagem! ^_^


Marcelo Reis


 

Patlabor OVA I

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 22/01/2006.

Alternativos: Kidou Keisatsu Patlabor, Patlabor The Mobile Police: The Original Series
Ano: 1988
Diretor: Mamoru Oshii / Naoyuki Yoshinaga
Estúdio: Bandai Visual / HEADGEAR / Studio DEEN
País: Japão
Episódios: 7
Duração: 30 min
Gênero: Comédia / Mecha / Sci-Fi


Muito antes dos Evangelions, RahXephons e Gunbusters da vida, existiam os clássicos animes de robôs gigantes criados por Go Nagai, tais como Getter Robo, Mazinger e Dangaioh. Apesar de interessantes e divertidos, os animes de Go Nagai eram exemplos clássicos de diversão-pipoca, do tipo que mal acaba e já evapora da memória. Por esta razão, existe um certo consenso entre os fãs de animes de mechas em afirmar que obras deste estilo atingiram um novo patamar narrativo com o surgimento de 3 séries: Mobile Suit Gundam, Macross e Patlabor.

Gundam é, de longe, o universo mais complexo dos 3, praticamente a primeira série do gênero a focalizar a narrativa nos personagens ao invés dos robôs, além de mostrar combates sangrentos entre os próprios humanos, ao contrário das obras mais antigas, em que os invasores sempre vinham do espaço. Não é à toa que Gundam foi considerado recentemente o anime mais conhecido e amado pelo público japonês de todas as idades.

Macross, por outro lado, inovou ao mostrar alienígenas com motivações não muito diferentes das nossas, o que, de certo modo, "humanizou" os invasores. Além disto, as idéias tecnológicas em Macross são de tirar o chapéu, especialmente o projeto por trás dos Valkyries, naves geniais que podem assumir 3 formas de combates completamente distintas. Sem Macross, animes como Transformers provavelmente não existiriam.

Apesar de bem mais recente que Gundam e Macross, Patlabor ganhou seu lugar de destaque ao lado destes clássicos com uma idéia ao mesmo tempo simples e genial: como seria a vida se robôs gigantescos fizessem parte de nosso dia-a-dia, sem a ameaça de invasões do espaço sideral nem de guerras sangrentas com outros países? Afinal, o perigo pode estar muito mais perto do que imaginamos, e o inimigo pode ser quem menos esperamos, até mesmo nosso vizinho.

Produzida no ano de 1989, esta série de 7 OVAs é a primeira do universo Patlabor, aquela que deu origem a tudo o que veio depois, desde a série de TV que praticamente reconta com detalhes os fatos destes OVAs, passando por uma segunda série de 16 OVAs, além de 3 excepcionais longa-metragens e o "spin-off" repleto de "Super Deforms" chamado Pato Pato. Com uma excelente animação do Studio Deen (Key the Metal Idol), Patlabor OVA é uma série que equilibra humor e drama de forma surpreendente, especialmente se levarmos em conta que o diretor desta obra é ninguém menos que Mamoru Oshii, famoso por obras mais cerebrais como "Ghost in the Shell" e "Jin-Roh". Confesso que descobrir este lado bem-humorado de Mamoru Oshii foi uma surpresa bastante agradável.

Tudo se passa no final do século XX, quando um gigantesco programa de construção chamado "Babylon Project" é iniciado, em função do aumento gradativo do nível do mar. Como parte importante deste enorme projeto, gigantescos robôs chamados "Labors" são criados para auxiliarem na execução destas construções. O problema é que esta tecnologia passa a ser utilizada também por criminosos, responsáveis pelos chamados "Labor Crimes", geralmente ataques terroristas realizados por ambientalistas que se opõem ao "Babylon Project".


Para combater este novo tipo de crime, a polícia metropolitana de Tóquio cria uma divisão de "Patrol Labors" chamada "Special Vehicles Section 2", ou simplesmente SV2. A chegada de novos "Patlabors" coincide com o recrutamento de novos soldados para a divisão SV2. A enérgica Noa Izumi, apaixonada pelo que faz, é encarregada do comando da Unidade 1, auxiliada por Asuma Shinohara, o desinformado-mor da divisão e que entrou meio sem querer nesta história, forçado pelo pai, um rico e poderoso industrial intimamente ligado à produção dos Labors. A Unidade 2 fica a cargo de Isao Ohta, um possessão que pode ser considerado o "Taz" da equipe, sempre louco para atirar em alguém. Por sorte seu auxiliar é Mikiyasu Shinshi, um cara calmo e todo metódico que, por ser casado e querer sempre voltar inteiro para sua esposa, segura as pontas e evita que Ohta cometa algum desatino. O quinto membro efetivo da equipe é Hiromi Yamazaki, um gigantão responsável pela manutenção da força que alimenta os Labors. A equipe se completa com o mecânico Shige, o capitão Gotoh, cuja aparência lerda esconde um oficial determinado que defende seus subordinados com unhas e dentes, além do impassível manda-chuva dos mecânicos Chefe Sakaki, também conhecido como "Velho Sakaki". A Capitão Nagumo e a Sargento Kanuka Clancy também possuem importância-chave na história, a primeira como uma rival de Gotoh no comando dos Labors, e a segunda como o cérebro por trás das táticas de combate... além de ser o objeto de desejo dos rapazes da divisão.

Muita gente boa participou da produção desta série. Akemi Takada, responsável pelo desenho de personagens em séries famosas como Kimagure Orange Road e Maison Ikkoku, realiza mais um trabalho excepcional, no qual cada personagem possui feições únicas e que se adequam com perfeição aos seus respectivos perfis psicológicos. Outro peso-pesado dentro da equipe é Yutaka Izubuchi, criador do desenho de personagens dos OVAs de Record of Lodoss War e, hoje, famoso por ser o responsável direto pelo fabuloso RahXephon. Seu trabalho em Patlabor é brilhante, não apenas pelo genial projeto dos Labors mas, ainda, por todo o universo mecânico criado para a série, desde submarinos até as gigantescas estruturas presentes nas construções.

Parafraseando a "Cartilha 'Marcelo Reis' para a Classificação de Animes Notáveis", volto à ladainha de sempre: mais vale uma obra de animação feita com papel higiênico mas com um bom roteiro e personagens cativantes, do que outra visualmente impecável mas absolutamente sem enredo e com personagens insuportáveis. Felizmente, esta série de OVAs consegue juntar tudo de bom em um único pacote. Os personagens já descritos são fenomenais, e a união cada vez mais forte entre os membros da equipe convence completamente o espectador, o que é de vital importância para que nos importemos com o que se passa na tela.

O roteiro é algo especial, mesclando constantemente passagens hilárias com outras seríssimas de forma muito agradável e natural, tudo isto em um ambiente bem mais realista do que aqueles presentes em outros animes de mechas. Um bom exemplo acontece quando, em uma perseguição, um dos "Patlabors" tem problemas sérios para passar sobre uma simples ponte. Se analisarmos a situação com o pé no chão, dá para imaginar que controlar um robozão destes realmente não deve ser tarefa das mais fáceis.

Patlabor possui alguns diálogos memoráveis, dentre os quais merece destaque uma bronca impiedosa do Capitão Gotoh em seus subordinados, presente no episódio 04, disparado o melhor da série: "Vocês são servidores públicos, pessoal! Servidores públicos. O que vocês pensam que estão pilotando? Great Mazinger? Dangaioh? Pelo amor de Deus, este não é um desenho sobre robôs cujo personagem principal é um garoto autista ou um 'zé-ninguém'!". Mandou muito bem, Gotoh! E falou a mais pura verdade!

Apesar do humor onipresente, Patlabor levanta algumas questões interessantes e bem sérias, como a necessidade ou não de policiais portarem armas, além de uma boa discussão sobre uma possível remilitarização futura do Japão. Por estas e outras razões, não dá para perdoar a tremenda pisada na bola cometida no último OVA. Os fatos começam a ser apresentados de forma apressada, muita coisa fica sem explicação e detalhes interessantes citados ao longo da série são completamente esquecidos. Depois de 6 OVAs praticamente perfeitos, é realmente muito triste ver uma série tão boa terminar de forma tão broxante...



Mas isto não é razão para deixar de assistir a este imperdível anime. Esta é uma obra que se encaixa perfeitamente na frase "O que vale é a jornada, não o destino final...". O equilíbrio alcançado nos 6 primeiros OVAs é tão bom que até dá para engolir a contragosto o fraco OVA final, que não é péssimo mas acaba totalmente no ar. Mas só a bronca fantástica de Gotoh e os ataques psicóticos de Ohta já seriam motivos suficientes para ver e rever a série por muitas e muitas vezes.


Marcelo Reis


 

Patlabor Movie 1

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 22/01/2006.

Alternativos: Kidou Keisatsu Patlabor Gekijouban
Ano: 1989
Diretor: Mamoru Oshii
Estúdio: Production I.G. / Studio DEEN
País: Japão
Episódios: 1
Duração: 99 min
Gênero: Drama / Mecha / Mistério


AVISO: Apesar deste texto não conter nenhum "spoiler" importante, recomendo que leia primeiro a resenha referente aos OVAs de Patlabor, pois isto permitirá um melhor aproveitamento das informações aqui descritas.

A história deste primeiro longa-metragem do universo Patlabor se passa imediatamente após os fatos da primeira série de OVAs. Devido à necessidade urgente de novas terras para os japoneses, o "Babylon Project" continua a todo o vapor, com mais de 3000 Labors trabalhando incessantemente, de modo a acelerar cada vez mais o ritmo das obras. Sem os Labors, pode-se afirmar que o projeto seria absolutamente inviável.

Com mais Labors no mercado, aumentam os riscos de novos e mais violentos "Labor Crimes", e as coisas se tornam mais perigosas com o surgimento do Type-0, um novo modelo criado pelas indústrias Shinohara. O Type-0 possui um visual meio assustador e utiliza um novo sistema operacional que aumenta o desempenho dos Labors em 30%, ainda que a habilidade dos pilotos continue a fazer uma diferença e tanto na hora de entrar em ação.

Nossos velhos conhecidos Noa Izumi e Asuma Shinohara chegam à ARK, local de manutenção do Labors, para investigar se existe algo de errado por trás do projeto do Type-0. Isto porque um protótipo da empresa Shinohara chamado "Heavy Labor" escapou da base por alguma razão obscura e, após ser destruído por um pelotão de Labors, foi verificado que não possuía nenhum piloto em seu interior... e seu sistema operacional era o mesmo dos Type-0.

Labors enlouquecidos e sem pilotos causando destruição e pânico não é exatamente um cenário agradável de se imaginar, daí a razão para se investigar os Type-0 com máxima urgência, especialmente pelo risco nada desprezível deste problema afetar também os Patrol Labors. Mas com tanto dinheiro e interesses envolvidos, será que toda esta investigação chegará a algum lugar? Os interesses empresariais estariam acima de tudo, até mesmo da própria lei? E, em todo este processo, as vidas dos humanos seriam apenas "meros detalhes"?


Apesar de ainda manter o humor presente na série de OVAs, com direito aos ataques possessões de Isao Ohta e à fantástica presença de espírito do Capitão Gotoh, o tom geral deste longa-metragem é bem mais sério e viajante. A equipe por trás da produção é praticamente a mesma, e parece que, desta vez, mais à vontade com o material que tinha em mãos, Mamoru Oshii resolveu dar vazão às suas costumeiras divagações visuais, conseguindo dirigir esta obra de forma mais consistente e homogênea.

Os personagens continuam com o mesmo carisma, mas é meio triste perceber que a ótima dupla Isao Ohta e Miyakasu Shinshi fica meio esquecida na história, a qual é bem mais focada em Noa e Asuma. O relacionamento ambígüo entre Gotoh e a Capitão Nagumo ganha destaque, mostrando um misto de rivalidade e admiração entre dois profissionais tão eficientes e carismáticos. Até mesmo o mecânico Shige ganha um papel de destaque na história... Ohta e Shinshi mereciam melhor sorte, sem sombra de dúvidas.

Não dá para descrever o quanto este longa-metragem é superior tecnicamente quando comparado ao já excepcional trabalho realizado nos OVAs. Inacreditável é pouco para classificar a qualidade da animação e a perfeição dos desenhos mecânicos, especialmente por se tratar de um anime produzido em 1989, quase inteiramente à mão. É preciso tirar o chapéu para o Studio Deen, pois o trabalho de seus profissionais de animação ficou em pé de igualdade com muita coisa boa feita pelo estúdios Ghibli e Madhouse.

Mas de que adiantaria tamanho apuro técnico sem um conteúdo que valesse a pena? O enredo deste longa-metragem expande as interessantes idéias presentes nos OVAs e, por usar o humor de forma mais comedida, consegue passar o recado para o espectador de forma mais efetiva. A história por trás das Indústrias Shinohara reflete bem a situação atual do Japão, com mega-empresas que atuam em praticamente todos os campos da economia, e com uma grande preocupação em aumentar cada vez mais as exportações de todas as formas. E, mesmo sendo um anime da era "pré-internet", Patlabor Movie já antecipava os riscos do terrorismo cibernético, criticando a tendência cada vez mais difundida nos dias atuais de que "o passado não presta, o que interessa é o futuro". A experiência de vida dos idosos é considerada obsoleta quando comparada à energia e ao vigor dos jovens, e quanto mais tecnologia estiver à disposição, melhor. Mas toda esta evolução tecnológica é realmente necessária para a evolução da humanidade como um todo? Até que ponto a ânsia de ultrapassar limites tecnológicos não pode, ela mesma, estar passando dos limites?



Com um excelente final, tenso e sem rodeios, Patlabor Movie não comete os poucos erros presentes na primeira série de OVAs e, por isto, se torna uma obra mais completa como um todo. Mais um excelente anime desta franquia que, comendo pelas beiradas, tem grandes chances de se consolidar de vez como um clássico absoluto nos anos que virão.


Marcelo Reis


 

Pale Cocoon (OVA)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 31/12/2006.

Ano: 2006
Diretor: Yasuhiro Yoshiura
Estúdio: Studio Rikka / Directions
País: Japão
Episódios: 1
Duração: 23 min
Gênero: Drama / Sci-Fi


Aproveitando a onda das resenhas de animes curtinhos e menos conhecidos, temos esta interessante produção de 23 minutos realizada em 2006, a primeira animação do Studio Rikka, com produção da Directions. Assim como grande parte destes animes, digamos, de pequeno porte, Pale Cocoon pode ser quase considerado uma obra de um homem só, no caso, o jovem Yasuhiro Yoshiura, nascido em 1980 e responsável pela direção, roteiro e produção do anime. O interessante é que, apesar de ser um pequeno projeto, com pouquíssimas pessoas envolvidas, Pale Cocoon conta com um nome de peso na parte musical, Tohru Okada, responsável pela trilha de Video Girl Ai e tecladista da famosa banda japonesa de rock dos anos 70, Moonriders.

Pale Cocoon se desenrola em um futuro triste e asséptico, uma época na qual artigos históricos foram destruídos e dados do passado só podem ser recuperados através de fragmentos digitais de arquivos danificados. O planeta nem de longe lembra a paisagem existente por volta do ano 2000, com beleza e cores abundantes, uma Terra cheia de vida e pujança. Nos dias atuais, o céu não existe mais como era antes, o sol é uma imagem há muito esquecida e o que restou da população humana vive em mundo artificial que cobriu completamente o antigo mundo real, no qual uma gigantesca torre de luz verde envolta por uma escada em espiral corta o local de cima a baixo. Em um ambiente tão desolado e sombrio, como manter a sanidade e a vontade de viver, tendo em vista a completa ausência de perspectivas para os dias que virão?

Ura é um rapaz que trabalha no Departamento de Escavações, no qual desempenha a função de vasculhar estes fragmentos de arquivos em busca de mais informações sobre o mundo do passado que corre o risco de desaparecer, em função da falta de registros históricos do mesmo. No início, ainda havia uma certa esperança de que as coisas pudessem melhorar neste novo mundo artificial mas, com o passar do tempo, o desânimo impera e o Departamento de Escavações está prestes a fechar as portas.


Mas Ura não desiste. Sua amiga Riko não entende a razão pela qual Ura trabalha com afinco nesta busca por informações do passado. Vale a pena tentar compreender este passado, ainda que seja para comparar com a triste realidade atual? É possível ter esperança sempre? Será que estas informações do passado poderiam, de alguma forma, projetar alguma luz para este futuro aparentemente sem saída?

Ura não tem respostas a estas perguntas, mas o fato é que não consegue parar, especialmente após receber uma imagem com áudio de uma garota. A princípio tudo aquilo parece apenas uma curiosidade mas, aos poucos, Ura vai descobrindo como aquele fragmento poderá afetar sua vida e seu futuro de forma irreversível.

Pale Cocoon é um projeto extremamente maduro, principalmente por se tratar de uma obra de estréia do estúdio responsável e do principal profissional envolvido. O OVA possui idéias visuais e tecnológicas interessantíssimas, que passam a sensação de algo avançado mas ainda plausível. O colorido sóbrio, baseado em tons de verde e marrom, dão o perfeito tom de melancolia pedido pelo anime, e isto se torna ainda mais evidente quando vemos uma ou outra imagem da Terra do passado, cujas cores vibrantes se destacam ainda mais no ambiente em tons pastéis deste futuro desanimador.

A animação digital é boa, ainda que os personagens se movimentem pouco, praticamente apenas os olhos e a boca, com um ou outro movimento corporal. A animação se baseia quase inteiramente em movimentos de câmera, o que, surpreendemente, dá conta do recado sem muitos problemas. A narrativa possui uma abordagem diferente, contemplativa, quase poética, buscando esperança em um mundo acabado sem apelar para o heroísmo ou coisa parecida.



Por ter muitas narrações em "off", além do problema citado de personagens meio paradões, Pale Cocoon acaba não sendo tão marcante como deveria. Isto nem de longe indica que é um anime medíocre, muito pelo contrário, mas dá para sentir, lá no fundo, que a excelente história não foi explorada a fundo. O espectador provavelmente não sairá insatisfeito ao final, mas deve ficar com uma sensação de que faltou algo. Ainda assim, um anime que merece ser conhecido, e mais uma prova de que estas "pequenas-grandes obras" de estúdios menores e profissionais estreantes vieram para ficar.


Marcelo Reis