sexta-feira, março 01, 2013

Technotise: Edit & Ja (Movie)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 29/04/2011.

Alternativos: Technotise: Edit & I
Ano: 2009
Diretor: Aleksa Gajić
Estúdio: Black White ´N´ Green
País: Sérvia
Episódios: 1
Duração: 103 min
Gênero: Sci-Fi / Ação / Cyberpunk


Animação sérvia que dá sequência à história em quadrinhos "Technotise", de autoria de Aleksa Gajić e Darko Grkinić, "Technotise: Edit I Ja" contou com apenas 15 pessoas na equipe (exceto dubladores), que trabalharam em sua produção durante 5 anos num apartamento em Belgrado. Com isto, não apenas conseguiram reduzir os custos ao máximo (US$900 mil no total), como ainda fizeram uma animação de excelente qualidade técnica e narrativa, mesmo com pequenos problemas aqui e ali. Aleksa Gajić continua sendo a alma da obra, sendo responsável pela direção, roteiro, produção, desenho de arte e animação.

Com uma estética claramente inspirada nos animes japoneses e uma história "cyberpunk" até a alma, "Technotise: Edit I Ja" se passa na Belgrado de 2074, onde vive Edit Stefanovic, uma estudante de Psicologia. Prestes a ser reprovada pela 6a. vez na mesma matéria da faculdade, Edit anda com os nervos à flor da pele, pois além de precisar estudar mais do que o normal para ser aprovada, ainda passa grande parte do dia cuidando de Abel, garoto autista e um prodígio na matemática. Sem contar a tiração de sarro de seu namorado Bojan, um escritor que pensa em sexo praticamente 24h por dia e não dá muito sossego à garota.

Edit resolve apelar para o submundo e instala um chip ilegal em seu corpo, buscando melhorar sua capacidade de memorização para que, assim, possa se livrar da matéria maldita da faculdade de uma vez por todas. Mas fatos estranhos começam a acontecer, e Edit se vê envolvida numa trama cada vez mais complexa, envolvendo segredos militares, assuntos governamentais e uma avançada teoria que, pela interligação de energias, permite a previsão do futuro.


Usando um estilo de animação 2D num ambiente 3D, "Technotise" possui cenários muito bem feitos e coloridos, num estilo que, apesar da influência dos animes, não nega a sua origem nos quadrinhos europeus. O desenho de personagens tem um climão anime, mas é bem diferenciado e expressivo, especialmente no caso de Edit. Os desenhos mecânicos são feitos com uma tremenda riqueza de detalhes, e apesar da abundância de efeitos de reflexos e transparências, em nenhum momento eles parecem forçados ou invasivos. A própria idéia de uma Belgrado futurista já demonstra esta preocupação com o equilíbrio, pois a cidade no geral se parece com uma metrópole dos dias de hoje, exceto por detalhes como veículos voadores, hologramas por todo lado ou as incríveis cabines de sexo virtual. E há várias tomadas de câmera inventivas, expecialmente nas excelentes cenas de ação. Merece destaque a sequência do "Hover Hell", com uma animação incrível e uma trilha sonora metal ao fundo (yeah!).

Por sinal, a trilha sonora composta por Boris Furduj e Slobodan Štrumberger é excelente, com predominância de músicas puxando para o "techno" e o "trance", mas com algumas pitadas de "metal" e de "ambient" aqui e ali. Os efeitos sonoros não ficam atrás, e a dublagem como um todo é excepcional, espacialmente no caso dos bichinhos-robôs de estimação... o coelhinho "gago" é show de bola demais!

"Technotise" possui uma história interessante, ainda que não seja lá muito revolucionária. Quem já está mais familiarizado com o universo "cyberpunk" perceberá muitas coisas comuns a outras obras do gênero. Ainda assim, "Technotise" tem um diferencial em relação à maioria destas obras, que é o bom humor. Alguns momentos são realmente muito engraçados sem que, no entanto, pareçam forçados ou deslocados do clima geral da obra. Que o diga a aparição-surpresa de uma novela brasileira em um momento da história, programa preferido da descabelada e possessa mãe de Edit. E este é um grande mérito de "Technotise": conseguir manter o equilíbrio em todos os momentos, mesmo quando as coisas começam a correr o risco de sair seriamente dos eixos.

Como ponto realmente mais negativo na obra, apenas a inconsistência da animação em vários momentos, nos quais a movimentação em geral fica meio estranha, como se a gravidade do local fosse totalmente diferente da real. Barras de ferro que caem de forma pouco natural, personagens que se movimentam de forma muito artificial em certas partes. Nada mais normal, pois apesar da excelência geral da produção, "Technotise" ainda é basicamente uma produção independente. E enquanto a maioria dos novos animadores procuram criar curtas-metragens por motivos óbvios, a equipe de Aleksa Gajić chutou o pau da barraca e partiu logo para um longa-metragem.



E a coragem valeu a pena. Os direitos autorais da obra foram vendidos à produtora americana Legendary Pictures, e tudo indica que um filme "live-action" será lançado ainda em 2011. Nada mal para esta pequena-grande obra criada na cara e na coragem, e com muito esforço e sacrifício, por um grupo de talentosos artistas sérvios.


Marcelo Reis


 

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