sexta-feira, março 01, 2013

Sword of the Stranger (Movie)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 04/10/2008.

Alternativos: Stranger - Mukoh Hadan
Ano: 2007
Diretor: Masahiro Ando
Estúdio: BONES
País: Japão
Episódios: 1
Duração: 102 min
Gênero: Ação / Histórico / Violência


Violento anime de ação produzido pelo BONES em 2007, "Sword of the Stranger" envolve personagens japoneses e chineses numa trama que se passa num período que corresponde, simultaneamente, à Era Sengoku no Japão e à Dinastia Ming na China. Para que possam se situar melhor, a Era Sengoku (Sengoku Jidai) foi o período das guerras civis no Japão, e durou aproximadamente de 1467 a 1615, quando o país estava dividido entre muitas províncias em guerra, cada uma governada por um senhor feudal. Já a Dinastia Ming abrange o reinado de vários imperadores da China entre os anos de 1368 a 1644.

Um garoto chamado Kotarou foge de um templo budista em chamas, sendo informado por um dos monges que deve se dirigir urgentemente à província Akaike e procurar o monge Zekkai. Acompanhado de seu cão Tobimaru, Kotarou segue sozinho em seu caminho até se encontrar com um espadachim num mosteiro abandonado. Apesar do cão ter simpatizado com o estranho, o genioso Kotarou não nutre o mesmo sentimento, e por ser muito inquieto e ter muita dificuldade para confiar nos outros, não faz a menor questão de esconder seu desprezo pelo homem.

Enquanto isto, uma tropa de ladrões ataca com violência um carregamento misterioso de caixas guardado por uma tropa de chineses. Liderados pelo incrível espadachim de olhos azuis Rarou, conhecido como "Monstro Louro" e sobre o qual existem histórias lendárias, os chineses mostram que não estão para brincadeiras. Os verdadeiros motivos de sua missão no Japão podem fazer com que seu caminho acabe se cruzando com o de Kotarou, Tobimaru e do "espadachim sem nome". Por que Kotarou teve que fugir correndo do templo budista, por que parece ser alguém tão importante, e o que ele e os chineses teriam a ver com as escavações feitas na província Shishine são apenas algumas das várias perguntas que vão aparecendo ao longo da narrativa.

Verdade seja dita, a história genérica de "Sword of the Stranger", ainda que longe de ser fraca, é o elemento menos marcante deste impressionante anime. Várias obras, animes ou não, versam sobre a mesma linha narrativa do "garoto predestinado perseguido por forças do mal e que acaba sendo ajudado por um homem misterioso", mas em "Sword of the Stranger" a força do conjunto é potencializada pelos excelentes personagens e pelas violentíssimas cenas de ação de cair o queixo.

Ainda que não chegue ao nível de excelência técnica das obras da Madhouse, por exemplo, "Sword of the Stranger" apresenta uma incrível mistura de animação 2D num ambiente 3D, repleto de inventivas tomadas de câmera que dão a impressão de se estar no meio das batalhas. Os cenários são muito detalhados mas sem ostentação, sempre com cores suaves e tons pastéis, tudo feito com muito bom gosto. O clima é acinzentado, frio, sempre com a presença de muito vento e do céu nublado, como se houvesse uma ameaça constante no ar. Em termos de animação, é digna de nota a atenção dada à sutil movimentação facial e corporal dos personagens, como o garoto se mexendo despreocupadamente, o "espadachim sem nome" todo largadão, e Rarou sempre altivo. E o estreante Masahiro Ando mostra que tem potencial para se tornar um diretor de primeira linha no futuro, demonstrando um grande domínio narrativo em todo a duração do anime. Merece destaque uma cena que envolve alguns caçadores de recompensa, cujo jogo de "mise-en-scéne" dá um clima perfeito aos eventos mostrados e ainda faz a história seguir sem atropelos.


A ótima trilha sonora de Naoki Sato (X TV, Eureka Seven) usa temas baseados em percussão nos momentos mais tensos, enquanto os momentos mais calmos são embalados por temas mais focados em flautas de bambu. Ainda em termos sonoros, o anime é falado em japonês e chinês, fato ainda mais interessante se levarmos em conta que não houve dubladores chineses envolvidos na obra. Em outras palavras, os "seiyuus" japoneses também fizeram suas falas em mandarim quando exigidos. Se a pronúncia saiu correta, aí já são outros quinhentos!

Mas são os personagens, ao lado das lutas, o grande motivo para se assistir a "Sword of the Stranger". Kotarou é um garoto de temperamento forte, mas sem parecer muito petulante ou irreal. E o fato do roteiro de Fumihiko Takayama não fazer do cão Tobimaru apenas um mero figurante torna a amizade do garoto com o animal ainda mais comovente. Mas é claro que a relação entre Kotarou e o espadachim Nanashi (que significa "sem nome) geram alguns dos melhores momentos da obra. Sempre às turras com Nanashi, Kotarou tem muitas dificuldades para aceitar os conselhos e ensinamentos do espadachim, que chega a chamar o garoto de "melequento" num momento em que perde a paciência. O clima tenso entre ambos gera ótimos diálogos, como este:

Nanashi - "Se não lhe digo o que faz de errado, nunca irá melhorar."
Kotarou - "Se só me disser o que faço direito, farei ainda melhor!"

Por outro lado, Nanashi mostra desde o início que seu jeitão largadão e despreocupado é só uma fachada. Sempre assombrado por lembranças do tempo de guerra, ele possui um pedido amarrado em sua "katana" e, apesar de sua insana habilidade de luta, nunca desembainha sua espada em combate. Mas, ao contrário de Kenshin Himura, ele mata o oponente se for preciso. Meio a contragosto, Nanashi acaba se tornando uma espécie de "tutor-protetor" de Koutarou, e a evolução natural do relacionamento entre ambos é um ponto muito positivo no enredo.

Rarou é um ótimo exemplo para o que costumamos chamar de "força da natureza". O simples olhar e postura deste excepcional espadachim, nunca ferido em combate, são suficientes para gerar arrepios. O interessante neste personagem é que, apesar de ser um monstro para matar, ele tem um senso ético que a maioria dos demais personagens da obra não possuem. Tanto que é o único entre os chineses que não utiliza uma droga capaz de anular a dor, pois diz que esta mesma dor faz a pessoa sentir-se viva. Tudo o que Rarou busca na vida é a possibilidade de encontrar um oponente do seu nível, para que possa saber qual é a sensação de ser ferido numa luta.

E que lutas! "Sword of the Stranger" talvez seja um dos animes mais sangrentos já feitos, com uma profusão de cabeças e braços cortados que voam para todos os lados. O interessante é que esta violência não chega a ser ofensiva, como em Ninja Ressurection, pois em nenhum momento aparecem vísceras e pedaços de cérebro voando pela tela. Sim, o anime é muito violento e sangrento, mas a intenção foi simplesmente mostrar que as lutas de espada não eram nada bonitinhas ou limpinhas mas, sim, cruéis, dolorosas e com muito, muito sangue. O fato é que as lutas neste anime são impressionantes, bem mais realistas que a média e, apesar de alguns exageros óbvios, são um prato cheio para quem curte obras neste estilo.



Seria interessante poder saber um pouco mais sobre o passado de Rarou e Nanashi, mas isto não é nada que estrague o resultado final. "Sword of the Stranger" é um anime na linha de "Ninja Scroll", mas muito superior à obra da Madhouse. Não é recomendado para quem tem estômago fraco, mas se você curte cenas de luta de cair o queixo, ótimos personagens e uma história interessante que só peca pela falta de originalidade, "Sword of the Stranger" é uma obra imperdível.


Marcelo Reis


 

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