sexta-feira, março 01, 2013

Spriggan (Movie)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 23/01/2005.

Ano: 1998
Diretor: Hirotsugu Kawasaki
Estúdio: Toho / Studio 4ºC
País: Japão
Episódios: 1
Duração: 90 min
Gênero: Aventura / Sci-Fi / Violência


Superprodução realizada em 1998 sob a supervisão de Katsuhiro Otomo (Akira, Steamboy) e baseado no mangá de Hiroshi Takashige e Ryoji Minagawa, "Spriggan" é um longa-metragem impressionante nos aspectos técnicos mas bem decepcionante em outros departamentos. Um problema muito comum na adaptação de mangás para animes, especialmente quando a obra em questão se transforma em um longa-metragem para cinema, é a extrema condensação que ocorre no enredo, gerando obras com o ritmo muito acelerado e com explicações que raramente convencem o espectador. Mas existem exceções: é verdade que obras como Akira, Ghost in the Shell e Nausicaa perderam detalhes importantes da história, mas as soluções encontradas pelos roteiristas para condensar as idéias centrais dos mangás originais foram mais do que satisfatórias. Infelizmente, o mesmo não pode ser dito de Spriggan, que começa como um excelente anime de ação e termina como um conjunto inacreditável de teorias pseudo-profundas misturadas aos meus velhos amigos clichês.

Vamos deixar a "sessão chatice" de lado por alguns momentos e falar sobre o enredo. Toda a bagunça começa durante uma exploração em algumas montanhas cobertas de neve. Em meio ao frio e à ventania, alguns exploradores são pegos de surpresa quando um violento tremor de terra atinge a região, causando um grave acidente. Para aumentar o pânico dos sobreviventes, uma estrutura gigantesca aparece diante dos atônitos exploradores, emitindo uma luz fortíssima e um barulho ensurdecedor. Fácil imaginar que o desfecho da situação não será muito agradável.

Após um bocado de explicações, tomamos conhecimento da real situação. Uma civilização antiga, desaparecida, deixou a seguinte mensagem: "Devolvemos nossas artes para as trevas, de onde elas se originaram. Desta maneira, elas não poderão ser evocadas uma segunda vez.". Para evitar que este conhecimento caia em mãos erradas, uma poderosa organização independente chamada ARCAM se encarrega de mantê-lo selado. Para isto, se utiliza de agentes secretos fortemente treinados que atendem pelo codinome "Spriggan".

Yu Ominae é um estudante de 17 anos que falta muito às aulas em função de suas secretas atividades "extra-classe". Nas horas vagas, Yu trabalha como um dos "Spriggans" supracitados... melhor dizendo, Yu é simplesmente o Spriggan mais foderoso da ARCAM, uma mistura perfeita de Super-Homem com Mac Gyver. A descoberta da Arca de Noé no monte Ararat (Turquia) e um atentado em sua escola (com direito à ameaçadora mensagem "Noé será sua tumba") fazem com que Yu seja imediatamente enviado ao local onde se encontra a Arca, para que possa se juntar aos demais membros da ARCAM e proteger a nova descoberta arqueológica do ataque de governos e organizações mercenárias.

Verdade seja dita, o ritmo até a chegada de Yu ao Monte Ararat é muito bom, mesmo com os incríveis exageros que pipocam aqui e ali. Como foi dito no início, Spriggan começa como um excelente anime de ação, e a fantástica qualidade da animação só ajuda a tornar a experiência ainda mais impressionante. O uso de ângulos de filmagem inusitados e a perfeição na animação dos personagens tornam as cenas de lutas e perseguições um espetáculo à parte. Spriggan foi um anime com uma produção caríssima, e a perfeição da animação mostra que o dinheiro foi muitíssimo bem empregado neste aspecto.


As coisas começam a desandar de vez quando a trama se concentra na defesa da Arca de Noé e dos conhecimentos que se encontram encerrados em seu interior. Algumas coisas interessantes ainda ocorrem, como a chegada do Spriggan Jean-Jacques Mondo (disparado o melhor personagem do anime) e a demonstração dos incríveis poderes assassinos de Yu quando entra em transe, com direitos a olhos esbranquiçados e sangue para todos os lados. Para compensar, somos apresentados a ridículos e exagerados vilões que atendem pelos nomes igualmente ridículos "Fat Man" e "Little Boy". Assim foram chamadas as bombas que destruíram Nagasaki e Hiroshima, respectivamente, e tem-se a forte impressão que, além da óbvia alusão à compleição física dos personagens, estes nomes foram dados a eles apenas para parecerem "bacanas" e "espertos".

Um anime de ação não precisa necessariamente de um enredo fabuloso, apesar de que isto é extremamente bem-vindo quando acontece. O problema com Spriggan é que ele tenta ser um anime de ação com substância, mas falha miseravelmente neste ponto. Antes tivesse continuado apenas como um "anime-porrada": teria sido mais honesto com o público. Sinceramente, não dá para engolir que algo tão importante e destrutivo como as informações contidas na Arca sejam controladas por um exército privado; e toda a conversa mole envolvendo o controle da camada de ozônio causa vômitos e náuseas. Aproveitem e aprendam uma dica importante de sobrevivência com o indestrutível Yu: se as coisas estiverem difíceis e não houver solução à vista, grite, corra e atire como um louco! Magicamente as coisas se resolverão em um piscar de olhos... afff! E prestem atenção no "maravilhoso" final... pausa para vômito, por favor.

Mas deixei o pior para o final (hehehe). Eu gosto deste anime, mesmo com todos os graves defeitos, mas se existe algo em Spriggan que eu odeio com toda a força do mundo, este algo atende pelo nome de Coronel Mac Dougall. Lembram-se da historinha bonitinha que escrevi no início da "review" de Ninja Resurrection? Pois bem, aquilo não serviria nem de aperitivo para este personagem insuportável. Não sei até que ponto a supervisão de Katsuhiro Otomo foi uma boa coisa para Spriggan, já que em alguns momentos percebe-se uma nítida vontade de copiar alguns elementos bem sucedidos em Akira e adaptá-los para esta obra. O fato é que Mac Dougall, um menino azul com incrível poderes telecinéticos, foi uma tentativa frustrada de criar um personagem poderoso e assustador como Tetsuo. Mac Dougall é chato, tem uma risadinha nojenta, se acha o "bambambam" da situação e, logicamente, possui motivos idiotas para justificar suas ações. Em meu roteiro, seu fim seria exemplar:

- Mac Dougall, seu mala, tenho um presentinho para você.
- Como tem coragem de falar assim comigo, seu idiota! Você vai morr...
- Calma, tenho algo que você irá adorar! Um pirulito!
- Oba! Meu lado criança não vai resistir! Depois eu acabo com você... me dê este pirulito agora! TZING!!!
- Puxa, isto é que poder telecinético! E aí, está bom o docinho?
- Hmmm... slurp! Uma delícia! Chlep! O que tem de tão especial neste pirulito? O sabor é ótimo!
- Nada de mais. Apenas um pouquinho de nitroglicerina... hehehe.
- O QUÊ?? Nitroglicerina? É agora que você vai morr... BUUUUUUUMMMM!!!
- Hehehehe... morre, desgraçado...



Ah, estou de alma lavada!! Erm... voltando ao mundo real e deixando os delírios de lado, preciso admitir que vale a pena assistir a Spriggan, mesmo que seja apenas para curtir o visual incrível, mas não posso deixar de enfatizar, também, que os problemas existentes são muito grandes e incomodam para valer. Assistam sem muitas expectativas e memorizem a historinha acima: garanto que a visão imaginária de Mac Dougall explodindo deixará a experiência de assistir a Spriggan muito mais agradável.


Marcelo Reis


 

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