sexta-feira, março 01, 2013

Roujin Z (OVA)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 26/04/2008.

Ano: 1991
Diretor: Hiroyuki Kitakubo
Estúdio: MOVIC / Studio A.P.P.P.
País: Japão
Episódios: 1
Duração: 87 min
Gênero: Comédia / Sci-Fi


Após o merecido mega-sucesso obtido com "Akira" em 1988, Katsuhiro Otomo resolveu se arriscar na direção de um "live-action", o misto de terror e comédia "World Apartment Horror", produzido em 1991. Contando com talentos hoje famosos no mundo dos animes, tais como Satoshi Kon e Keiko Nobumoto, Otomo provou que também poderia ser bem sucedido neste novo terreno.

A verdade é que, apesar de não ter dirigido nenhum novo anime até 1995, quando foi o responsável pelo curta "Cannon Fodder", presente em "Memories", Otomo participou como roteirista de um interessante OVA lançado também em 1991, "Roujin Z". E assim como ocorreu em "World Apartment Horror", Otomo contou com a ajuda de muita gente boa em "Roujin Z", como Hiroyuki Kitakubo (diretor de "Golden Boy" e "Blood: The Last Vampire"), o já citado Satoshi Kon (que dispensa apresentações e foi responsável pela direção de arte neste anime) e Hisashi Eguchi (desenhista de personagens em Perfect Blue e Spriggan). Se costumamos dizer que determinadas obras são a cara de seu diretor, é difícil negar que "Roujin Z" tem a cara de seu roteirista, ainda que os demais profissionais citados tenham contribuído de maneira fundamental com seu talento.

A palavra "roujin" significa velho ou idoso em japonês, e são exatamente os idosos o centro do enredo deste anime. O "Sistema de Emergências Médicas", instaurado no Japão há 10 anos, foi criado para dar um atendimento mais digno à população. Mais de 7 milhões de bips foram distribuídos a pacientes cardíacos e idosos mas, infelizmente, com os setores de emergências lotados, a falta de funcionários e o baixo orçamento disponível, pode-se dizer que este sistema está saturado, à beira do colapso.

O Ministério do Bem-Estar Social anuncia o surgimento daquele que, em sua opinião, é o maior projeto do século, capaz de solucionar este problema e oferecer um atendimento digno aos idosos: uma máquina chamada Z-001, um equipamento médico completo gerenciado por um computador de 6a geração e capaz de, entre outras coisas, banhar o idoso, alimentá-lo, medir a sua temperatura, coletar excrementos e até mesmo possibilitar que ele faça exercícios. A máquina não pára nunca, resiste a qualquer intempérie natural e, maravilha das maravilhas, é capaz de evoluir!


Quem acaba servindo de cobaia nesta experiência é o pobre Kijuro Takazawa, um senhor muito velho e viúvo que é cuidado com todo o carinho e atenção pela voluntária Haruko Mihashi, uma dedicada estudante de enfermagem. Tendo recebido autorização da família, os agentes do Ministério retiram o sr. Takazawa dos cuidados de Haruko, de maneira meio truculenta. A pobre estudante questiona o experimento, ao duvidar da capacidade de uma máquina em dar amor a um paciente, e começa a se preocupar para valer quando, depois de um tempo, recebe um inesperado e improvável chamado do sr. Takazawa. O que estaria acontecendo de verdade com o pobre idoso, e o que seria, na realidade, esta suposta "máquina maravilhosa" chamada Z-001?

Apesar de tratar de um tema sério, "Roujin Z" conta com um humor visual cáustico que, certamente, foi contribuição do diretor Hiroyuki Kitakubo. É de se admirar a capacidade de Kitakubo em conseguir criar animes piradíssimos sem que isto prejudique a força do interessante enredo. Mas como foi dito acima, "Roujin Z" é, acima de tudo, uma obra de Katsuhiro Otomo, com temas que são a cara de seu criador: supercomputadores, tecnologia de ponta colocando em risco a segurança das pessoas, militares fazendo uma bobagem atrás da outra, tudo isto em meio a muita destruição, é claro. Apesar de ser um anime quase pastelão, com direito a exageros visuais que poderiam muito bem aparecer em obras como "FLCL" e "Dead Leaves", "Roujin Z" usa este humor escrachado justamente para cutucar o espectador, mostrando como certas pessoas são capazes de fazer propostas indecentes em nome do dinheiro e do poder, transformando o povo comum num detalhe sem muita importância. Alguns detalhes criativos do roteiro são de uma felicidade imensa, como os idosos "hackers" e a união entre jovens e velhos para combater um inimigo comum. Tudo isto, é claro, feito com um bom humor danado, evitando que algum dramalhão clichezento apareça para estragar tudo.

"Roujin Z" não chega a ser nenhum assombro em termos técnicos, até mesmo por ser um OVA, e não um longa-metragem. O "chara design" de Hisashi Eguchi é sempre ótimo, com cada personagem tendo traços bem diferentes uns dos outros, sem contar as mudanças faciais enlouquecidas, com os personagens passando de expressões normais para um SD ensandencido em questão de milissegundos. E Katsuhiro Otomo também arrebenta como desenhista mecânico, criando estruturas super-detalhadas e muito bem animadas que, se não chegam ao nível de perfeição de um "Akira", por exemplo, são de longe o aspecto técnico mais chamativo deste OVA. A trilha sonora é uma faca de dois gumes, pois se na maior parte do tempo o instrumental alegrinho dá um clima perfeito às cenas, rumo ao final as coisas mudam um pouco...

E é exatamente rumo ao final que começam os problemas. "Roujin Z" é um anime cujo ritmo não cai em nenhum momento, mas se no terço inicial as coisas fluem bem, sem atropelos, a situação começa a mudar da metade para a frente, com algumas quebras estranhas no ritmo, situações cômicas que não são tão engraçadas quanto deveriam e exageros que vão aumentando em escala exponencial. Uma parte em especial, relativa a uma certa "cópia de voz", é tão podre que praticamente serve como divisor de águas entre a parte boa e a parte medíocre do anime. "Roujin Z" vai ficando tão aloprado e a música se torna tão estridente e incômoda que o espectador, nervoso e com o coração palpitando, começa a torcer para que toda aquela alopração termine logo.



Com muitas idéias legais, como a possibilidade da existência de um organismo biomecânico capaz de evoluir, "Roujin Z" mostra mais uma vez a excepcional criatividade de Katsuhiro Otomo, ainda que, como roteirista de animes, ele ainda não tenha atingido o mesmo domínio narrativo que demonstra nos mangás que escreve. Não é uma obra memorável, mas está muito longe de ser dispensável. Ah, e quase que me esqueço! "Roujin Z" perde muito do seu encanto rumo ao final, é verdade, mas os dois minutinhos finais da obra são excepcionais.


Marcelo Reis


 

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