sexta-feira, março 01, 2013

Patlabor OVA I

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 22/01/2006.

Alternativos: Kidou Keisatsu Patlabor, Patlabor The Mobile Police: The Original Series
Ano: 1988
Diretor: Mamoru Oshii / Naoyuki Yoshinaga
Estúdio: Bandai Visual / HEADGEAR / Studio DEEN
País: Japão
Episódios: 7
Duração: 30 min
Gênero: Comédia / Mecha / Sci-Fi


Muito antes dos Evangelions, RahXephons e Gunbusters da vida, existiam os clássicos animes de robôs gigantes criados por Go Nagai, tais como Getter Robo, Mazinger e Dangaioh. Apesar de interessantes e divertidos, os animes de Go Nagai eram exemplos clássicos de diversão-pipoca, do tipo que mal acaba e já evapora da memória. Por esta razão, existe um certo consenso entre os fãs de animes de mechas em afirmar que obras deste estilo atingiram um novo patamar narrativo com o surgimento de 3 séries: Mobile Suit Gundam, Macross e Patlabor.

Gundam é, de longe, o universo mais complexo dos 3, praticamente a primeira série do gênero a focalizar a narrativa nos personagens ao invés dos robôs, além de mostrar combates sangrentos entre os próprios humanos, ao contrário das obras mais antigas, em que os invasores sempre vinham do espaço. Não é à toa que Gundam foi considerado recentemente o anime mais conhecido e amado pelo público japonês de todas as idades.

Macross, por outro lado, inovou ao mostrar alienígenas com motivações não muito diferentes das nossas, o que, de certo modo, "humanizou" os invasores. Além disto, as idéias tecnológicas em Macross são de tirar o chapéu, especialmente o projeto por trás dos Valkyries, naves geniais que podem assumir 3 formas de combates completamente distintas. Sem Macross, animes como Transformers provavelmente não existiriam.

Apesar de bem mais recente que Gundam e Macross, Patlabor ganhou seu lugar de destaque ao lado destes clássicos com uma idéia ao mesmo tempo simples e genial: como seria a vida se robôs gigantescos fizessem parte de nosso dia-a-dia, sem a ameaça de invasões do espaço sideral nem de guerras sangrentas com outros países? Afinal, o perigo pode estar muito mais perto do que imaginamos, e o inimigo pode ser quem menos esperamos, até mesmo nosso vizinho.

Produzida no ano de 1989, esta série de 7 OVAs é a primeira do universo Patlabor, aquela que deu origem a tudo o que veio depois, desde a série de TV que praticamente reconta com detalhes os fatos destes OVAs, passando por uma segunda série de 16 OVAs, além de 3 excepcionais longa-metragens e o "spin-off" repleto de "Super Deforms" chamado Pato Pato. Com uma excelente animação do Studio Deen (Key the Metal Idol), Patlabor OVA é uma série que equilibra humor e drama de forma surpreendente, especialmente se levarmos em conta que o diretor desta obra é ninguém menos que Mamoru Oshii, famoso por obras mais cerebrais como "Ghost in the Shell" e "Jin-Roh". Confesso que descobrir este lado bem-humorado de Mamoru Oshii foi uma surpresa bastante agradável.

Tudo se passa no final do século XX, quando um gigantesco programa de construção chamado "Babylon Project" é iniciado, em função do aumento gradativo do nível do mar. Como parte importante deste enorme projeto, gigantescos robôs chamados "Labors" são criados para auxiliarem na execução destas construções. O problema é que esta tecnologia passa a ser utilizada também por criminosos, responsáveis pelos chamados "Labor Crimes", geralmente ataques terroristas realizados por ambientalistas que se opõem ao "Babylon Project".


Para combater este novo tipo de crime, a polícia metropolitana de Tóquio cria uma divisão de "Patrol Labors" chamada "Special Vehicles Section 2", ou simplesmente SV2. A chegada de novos "Patlabors" coincide com o recrutamento de novos soldados para a divisão SV2. A enérgica Noa Izumi, apaixonada pelo que faz, é encarregada do comando da Unidade 1, auxiliada por Asuma Shinohara, o desinformado-mor da divisão e que entrou meio sem querer nesta história, forçado pelo pai, um rico e poderoso industrial intimamente ligado à produção dos Labors. A Unidade 2 fica a cargo de Isao Ohta, um possessão que pode ser considerado o "Taz" da equipe, sempre louco para atirar em alguém. Por sorte seu auxiliar é Mikiyasu Shinshi, um cara calmo e todo metódico que, por ser casado e querer sempre voltar inteiro para sua esposa, segura as pontas e evita que Ohta cometa algum desatino. O quinto membro efetivo da equipe é Hiromi Yamazaki, um gigantão responsável pela manutenção da força que alimenta os Labors. A equipe se completa com o mecânico Shige, o capitão Gotoh, cuja aparência lerda esconde um oficial determinado que defende seus subordinados com unhas e dentes, além do impassível manda-chuva dos mecânicos Chefe Sakaki, também conhecido como "Velho Sakaki". A Capitão Nagumo e a Sargento Kanuka Clancy também possuem importância-chave na história, a primeira como uma rival de Gotoh no comando dos Labors, e a segunda como o cérebro por trás das táticas de combate... além de ser o objeto de desejo dos rapazes da divisão.

Muita gente boa participou da produção desta série. Akemi Takada, responsável pelo desenho de personagens em séries famosas como Kimagure Orange Road e Maison Ikkoku, realiza mais um trabalho excepcional, no qual cada personagem possui feições únicas e que se adequam com perfeição aos seus respectivos perfis psicológicos. Outro peso-pesado dentro da equipe é Yutaka Izubuchi, criador do desenho de personagens dos OVAs de Record of Lodoss War e, hoje, famoso por ser o responsável direto pelo fabuloso RahXephon. Seu trabalho em Patlabor é brilhante, não apenas pelo genial projeto dos Labors mas, ainda, por todo o universo mecânico criado para a série, desde submarinos até as gigantescas estruturas presentes nas construções.

Parafraseando a "Cartilha 'Marcelo Reis' para a Classificação de Animes Notáveis", volto à ladainha de sempre: mais vale uma obra de animação feita com papel higiênico mas com um bom roteiro e personagens cativantes, do que outra visualmente impecável mas absolutamente sem enredo e com personagens insuportáveis. Felizmente, esta série de OVAs consegue juntar tudo de bom em um único pacote. Os personagens já descritos são fenomenais, e a união cada vez mais forte entre os membros da equipe convence completamente o espectador, o que é de vital importância para que nos importemos com o que se passa na tela.

O roteiro é algo especial, mesclando constantemente passagens hilárias com outras seríssimas de forma muito agradável e natural, tudo isto em um ambiente bem mais realista do que aqueles presentes em outros animes de mechas. Um bom exemplo acontece quando, em uma perseguição, um dos "Patlabors" tem problemas sérios para passar sobre uma simples ponte. Se analisarmos a situação com o pé no chão, dá para imaginar que controlar um robozão destes realmente não deve ser tarefa das mais fáceis.

Patlabor possui alguns diálogos memoráveis, dentre os quais merece destaque uma bronca impiedosa do Capitão Gotoh em seus subordinados, presente no episódio 04, disparado o melhor da série: "Vocês são servidores públicos, pessoal! Servidores públicos. O que vocês pensam que estão pilotando? Great Mazinger? Dangaioh? Pelo amor de Deus, este não é um desenho sobre robôs cujo personagem principal é um garoto autista ou um 'zé-ninguém'!". Mandou muito bem, Gotoh! E falou a mais pura verdade!

Apesar do humor onipresente, Patlabor levanta algumas questões interessantes e bem sérias, como a necessidade ou não de policiais portarem armas, além de uma boa discussão sobre uma possível remilitarização futura do Japão. Por estas e outras razões, não dá para perdoar a tremenda pisada na bola cometida no último OVA. Os fatos começam a ser apresentados de forma apressada, muita coisa fica sem explicação e detalhes interessantes citados ao longo da série são completamente esquecidos. Depois de 6 OVAs praticamente perfeitos, é realmente muito triste ver uma série tão boa terminar de forma tão broxante...



Mas isto não é razão para deixar de assistir a este imperdível anime. Esta é uma obra que se encaixa perfeitamente na frase "O que vale é a jornada, não o destino final...". O equilíbrio alcançado nos 6 primeiros OVAs é tão bom que até dá para engolir a contragosto o fraco OVA final, que não é péssimo mas acaba totalmente no ar. Mas só a bronca fantástica de Gotoh e os ataques psicóticos de Ohta já seriam motivos suficientes para ver e rever a série por muitas e muitas vezes.


Marcelo Reis


 

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