sexta-feira, março 01, 2013

Patlabor Movie 1

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 22/01/2006.

Alternativos: Kidou Keisatsu Patlabor Gekijouban
Ano: 1989
Diretor: Mamoru Oshii
Estúdio: Production I.G. / Studio DEEN
País: Japão
Episódios: 1
Duração: 99 min
Gênero: Drama / Mecha / Mistério


AVISO: Apesar deste texto não conter nenhum "spoiler" importante, recomendo que leia primeiro a resenha referente aos OVAs de Patlabor, pois isto permitirá um melhor aproveitamento das informações aqui descritas.

A história deste primeiro longa-metragem do universo Patlabor se passa imediatamente após os fatos da primeira série de OVAs. Devido à necessidade urgente de novas terras para os japoneses, o "Babylon Project" continua a todo o vapor, com mais de 3000 Labors trabalhando incessantemente, de modo a acelerar cada vez mais o ritmo das obras. Sem os Labors, pode-se afirmar que o projeto seria absolutamente inviável.

Com mais Labors no mercado, aumentam os riscos de novos e mais violentos "Labor Crimes", e as coisas se tornam mais perigosas com o surgimento do Type-0, um novo modelo criado pelas indústrias Shinohara. O Type-0 possui um visual meio assustador e utiliza um novo sistema operacional que aumenta o desempenho dos Labors em 30%, ainda que a habilidade dos pilotos continue a fazer uma diferença e tanto na hora de entrar em ação.

Nossos velhos conhecidos Noa Izumi e Asuma Shinohara chegam à ARK, local de manutenção do Labors, para investigar se existe algo de errado por trás do projeto do Type-0. Isto porque um protótipo da empresa Shinohara chamado "Heavy Labor" escapou da base por alguma razão obscura e, após ser destruído por um pelotão de Labors, foi verificado que não possuía nenhum piloto em seu interior... e seu sistema operacional era o mesmo dos Type-0.

Labors enlouquecidos e sem pilotos causando destruição e pânico não é exatamente um cenário agradável de se imaginar, daí a razão para se investigar os Type-0 com máxima urgência, especialmente pelo risco nada desprezível deste problema afetar também os Patrol Labors. Mas com tanto dinheiro e interesses envolvidos, será que toda esta investigação chegará a algum lugar? Os interesses empresariais estariam acima de tudo, até mesmo da própria lei? E, em todo este processo, as vidas dos humanos seriam apenas "meros detalhes"?


Apesar de ainda manter o humor presente na série de OVAs, com direito aos ataques possessões de Isao Ohta e à fantástica presença de espírito do Capitão Gotoh, o tom geral deste longa-metragem é bem mais sério e viajante. A equipe por trás da produção é praticamente a mesma, e parece que, desta vez, mais à vontade com o material que tinha em mãos, Mamoru Oshii resolveu dar vazão às suas costumeiras divagações visuais, conseguindo dirigir esta obra de forma mais consistente e homogênea.

Os personagens continuam com o mesmo carisma, mas é meio triste perceber que a ótima dupla Isao Ohta e Miyakasu Shinshi fica meio esquecida na história, a qual é bem mais focada em Noa e Asuma. O relacionamento ambígüo entre Gotoh e a Capitão Nagumo ganha destaque, mostrando um misto de rivalidade e admiração entre dois profissionais tão eficientes e carismáticos. Até mesmo o mecânico Shige ganha um papel de destaque na história... Ohta e Shinshi mereciam melhor sorte, sem sombra de dúvidas.

Não dá para descrever o quanto este longa-metragem é superior tecnicamente quando comparado ao já excepcional trabalho realizado nos OVAs. Inacreditável é pouco para classificar a qualidade da animação e a perfeição dos desenhos mecânicos, especialmente por se tratar de um anime produzido em 1989, quase inteiramente à mão. É preciso tirar o chapéu para o Studio Deen, pois o trabalho de seus profissionais de animação ficou em pé de igualdade com muita coisa boa feita pelo estúdios Ghibli e Madhouse.

Mas de que adiantaria tamanho apuro técnico sem um conteúdo que valesse a pena? O enredo deste longa-metragem expande as interessantes idéias presentes nos OVAs e, por usar o humor de forma mais comedida, consegue passar o recado para o espectador de forma mais efetiva. A história por trás das Indústrias Shinohara reflete bem a situação atual do Japão, com mega-empresas que atuam em praticamente todos os campos da economia, e com uma grande preocupação em aumentar cada vez mais as exportações de todas as formas. E, mesmo sendo um anime da era "pré-internet", Patlabor Movie já antecipava os riscos do terrorismo cibernético, criticando a tendência cada vez mais difundida nos dias atuais de que "o passado não presta, o que interessa é o futuro". A experiência de vida dos idosos é considerada obsoleta quando comparada à energia e ao vigor dos jovens, e quanto mais tecnologia estiver à disposição, melhor. Mas toda esta evolução tecnológica é realmente necessária para a evolução da humanidade como um todo? Até que ponto a ânsia de ultrapassar limites tecnológicos não pode, ela mesma, estar passando dos limites?



Com um excelente final, tenso e sem rodeios, Patlabor Movie não comete os poucos erros presentes na primeira série de OVAs e, por isto, se torna uma obra mais completa como um todo. Mais um excelente anime desta franquia que, comendo pelas beiradas, tem grandes chances de se consolidar de vez como um clássico absoluto nos anos que virão.


Marcelo Reis


 

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