sexta-feira, março 01, 2013

Neo-Tokyo (Movie)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 14/11/2005.

Alternativos: Manie Manie - The Labyrinth Tales, Manie-Manie Meikyu Monogatari
Ano: 1986
Diretor: Rin Taro / Yoshiaki Kawajiri / Katsuhiro Otomo
Estúdio: Madhouse
País: Japão
Episódios: 1
Duração: 50 min
Gênero: Aventura / Terror / Sci-Fi


Não sei se a mesma coisa aconteceu em outros lugares do Brasil mas pelo menos aqui, em Belo Horizonte, bastava mencionar o anime "Neo-Tokyo" para ouvir o indefectível comentário: "Ah! Aquele que se passa antes da história de Akira?". Estas lendas urbanas são sempre muito interessantes: surgem sabe-se lá de onde, e é um custo conseguir convencer as pessoas de que a realidade é bem diferente. Para quem continua na dúvida: não, Neo-Tokyo não tem nada a ver com a história de Akira. Na verdade, este nome foi uma jogada de "marketing" da famosa Streamline Pictures, uma das empresas precursoras na distribuição de animes dentro dos Estados Unidos. Como este anime, cujo nome correto é "Manie-Manie Meikyu Monogatari", possui um episódio dirigido por Katsuhiro Otomo, resolveram distribuí-lo nos Estados Unidos com o sugestivo nome "Neo-Tokyo" para aproveitar o estrondoso sucesso de Akira à época. Apesar do nome não ser nada fiel ao original japonês, manterei a denominação "Neo-Tokyo" ao longo da resenha, já que a maior parte das pessoas conhece esta obra por este título.

Neo-Tokyo foi um projeto interessante lançado em 1986. Buscando mostrar o alto nível da animação japonesa e como esta forma de expressão poderia resultar em obras surpreendentes, a Kadokawa Shoten resolveu investir neste pequeno anime de apenas 50 minutos, contendo 3 histórias curtas dirigidas por ninguém menos que Rin Taro (X Movie, Galaxy Express 999), Yoshiaki Kawajiri (Ninja Scroll, Wicked City) e Katsuhiro Otomo (Akira, Metropolis, Steamboy). Os 3 grandes diretores não decepcionaram, justificando a fama com 3 pequenas pérolas, cada uma com a cara de seu respectivo criador.

A primeira história, "Labyrinth Labyrinthos", ficou a cargo de Rin Taro, e começa em frente a uma estranha porta, uma boca de pedra aberta e de onde emanam sons de água e vento. Pequenas palavras soltas ("Chichiro.. onde está... circo...") e um visual com traços distorcidos já mostram que o realismo passa longe daqui. Uma menina chamada Sachi brinca de esconde-esconde com um gatinho imaginário, o tal Chichiro mencionado anteriormente, e parece viver em uma dimensão completamente diferente das pessoas à sua volta. Enquanto o mundo em sua visão infantil e fantasiosa é todo mole e desconjuntado, os adultos parecem levar a vida como autômatos servis e sem expressão. A chegada de um circo à cidade pode ser a chance que Sachi esperava de ter contato com uma realidade um pouco diferente da monotonia geral de seu habitat.

Yoshiaki Kawajiri, com seu peculiar estilo de narrativa violenta e com personagens de traços marcantes, dirige o eletrizante "Running Man". Um repórter investiga a história de Zack Hugh e a inesquecível corrida que resultou em várias mortes. Zack, campeão das corridas do Circo da Morte por 10 anos, é um piloto imbatível e destemido, também conhecido pelos apelidos "Zack the Reaper" e "The Phoenix". Durante as corridas, o estresse sofrido pelos pilotos é algo fora do comum, pois a vida de cada um está em jogo a todo momento, mas Zack reage de modo estranho frente a toda esta tensão, liberando um poder mental violento que pode ser a razão por trás de sua longa invencibilidade. Mas estaria a sua mente reagindo de forma positiva a todo este estresse?


"The Order to Cease Construction" é a contribuição de Katsuhiro Otomo ao projeto "Neo-Tokyo". Um golpe de estado na República Aloana prejudica o andamento do Projeto #444, uma enorme construção que permitiria o acesso de uma grande empresa ao mercado e aos recursos deste país. Com o golpe, o novo governo cancela a contrato e, com isto, um emissário é enviado à obra com ordens expressas de suspender toda a construção imediatamente. Tsutomu Sugioka, o tal emissário, não estava preparado para a situação que o esperava, um verdadeiro inferno no meio de uma densa floresta tropical, um canteiro de obras sem supervisão humana no qual um imenso número de robôs trabalha sem parar de forma desordenada, como se estivessem loucos. Um supervisor-robô à beira de um ataque de nervos completa o cenário dantesco, e pode dar muito mais do que uma simples dor-de-cabeça ao pobre Sugioka.

Tecnicamente, Neo-Tokyo é irrepreensível, principalmente por se tratar de uma obra 100% feita à mão. Com a Madhouse por trás da animação, isto já seria esperado. O interessante é notar que cada uma das 3 histórias possui um estilo bem peculiar, desde o tipo de animação utilizada até o trabalho de arte e o desenho dos personagens, e mesmo a forma narrativa de cada um é única. Rin Taro criou uma obra mais surrealista, sem diálogos, apenas com músicas e efeitos; Yoshiaki Kawajiri fez algo mais visceral, confiando mais nas imagens fortes para passar sua mensagem; e Katsuhiro Otomo fez o episódio mais verborrágico mas, nem por isto, menos impressionante em termos visuais.

Em termos de enredo, nenhum dos três é particularmente brilhante, embora a obra de Otomo dê um enfoque bem singular à velha história de máquinas tomando o controle da situação e ameaçando a existência dos humanos. Como cada história é extremamente curta, ficaria realmente muito difícil criar algum roteiro muito elaborado ou uma trama intrincada. A proposta inicial era mostrar como a animação poderia ser usada para contar bem mais do que historinhas felizes para crianças. A animação ocidental já havia sido usada para temas mais sérios anteriormente, e basta assistir a obras como "O Gato Fritz" de Robert Crumb para tirar a prova, mas os japoneses sempre conseguiram separar melhor as coisas neste campo, criando obras direcionadas para pessoas de todas as idades e em praticamente todos os gêneros, desde a comédia pastelão até animes fortíssimos envolvendo horror e pornografia explícitos.

Os três curtas são muito bons, merecendo destaque o ótimo conjunto do episódio dirigido por Katsuhiro Otomo. Em termos gerais, Yoshiaki Kawajiri atinge o melhor resultado final com seu "Running Man": se a história não é excepcional, a tensão presente em todo o episódio torna-o o mais envolvente de todos. Sem desmerecer Rin Taro, é óbvio, com seu mundo de fantasia em constante movimento visualizado pela interessantíssima Sachi.



Neo-Tokyo não muda a vida de ninguém, mas é uma obra que deve ser assistida por qualquer pessoa que curta uma animação adulta de ótima qualidade, principalmente para ver 3 grandes diretores lapidando seus enormes talentos ainda em formação.


Marcelo Reis


 

7 comentários:

  1. https://www.youtube.com/watch?v=mauV2NdCs60

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    1. Valeu por compartilhar este vídeo, Marcilene! Realmente a música se encaixou muito bem com este segmento do filme - não me canso de me maravilhar com a qualidade da animação.

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  2. 50 minutos que passaram voando assistindo essa obra prima,o primeiro curta é fantasia pura, me senti assistindo os clássicos da Disney,o segundo é mais serio e mais objetivo,foi o que menos gostei mas nao deixa de ser excelente, os traços beiram a realidade,o ultimo foi oque eu mais gostei,as obras do mestre K. Otomo são todas de alto padrao de qualidade,essa não poderia deixar de ser,os movimentos sempre fluidos,personagens expressivos e uma estoria bastante imersiva,pena que é tao curta, No geral dou nota 10!.

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    1. Valeu pelo comentário, Felipe! Este anime realmente passa voando, e cada curta é excelente, cada um à sua maneira.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Glad to know this review has been useful to you, even in Portuguese. And thank you for linking this review in your article!

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