OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 02/01/2017
Ano: 1985
Diretor: Masami Hata
Estúdio: Sanrio Film
País: Japão
Episódios: 1
Duração: 90 min
Gênero: Aventura / Fantasia / Romance
Muitos animadores buscaram, ao longo dos anos, criar obras tematicamente semelhantes à obra-prima "Fantasia", criada por Walt Disney em 1940. Desde Osamu Tezuka com seu curta-metragem "Pictures at an Exhibition", de 1966, inspirado na suíte para piano de Modest Mussorgsky, até Bruno Bozzetto com o excepcional "Allegro Non Troppo" de 1976, muita gente tentou dar sua contribuição para o universo das animações com segmentos curtos, não conectados entre si e embalados por músicas clássicas, com resultados variados. "Fairy Florence" se encaixa um pouco neste perfil, com a diferença de ter um enredo que une todas as seções.
Durante muito tempo, "Fairy Florence" foi considerado o último longa-metragem da Sanrio Films, já que a partir de 1985, a Sanrio passou apenas a produzir OVAs, curtas e séries de TV baseados em seus personagens. Isto mudou depois que a empresa voltou a criar filmes de 2007 em diante, geralmente associada a outros estúdios como Madhouse e Studio Comet. Dirigido por Masami Hata, responsável pelo belo e doloroso "Chirin no Suzu", "Fairy Florence" não atinge o mesmo nível de excelência narrativa, ainda que seja mais uma obra de qualidade técnica impecável da Sanrio Films.
Michael é um jovem rapaz que toca oboé na orquestra jovem local mas que, no fundo, prefere cuidar das flores na estufa da escola onde estuda. Michael adora tocar músicas para as plantas, mesmo sofrendo com a alergia que tem ao pólen, que o faz espirrar sem parar. Toda esta dedicação às flores afeta cada vez mais o seu desempenho na orquestra: sempre atrasado, derrubando tudo o que vê na frente, errando o que toca e espirrando nas horas mais impróprias.
Órfão de um grande compositor e uma excepcional violinista, Michael foi acolhido ainda muito jovem pelo professor de música e maestro da orquestra, que vê um futuro brilhante para o rapaz, desde que ele coloque os pés no chão, pare de sonhar tanto e se dedique de corpo e alma à música. Michael agora enfrenta um dilema: deve continuar no caminho da música, mais palpável, ou mergulhar de cabeça no mundo idílico das flores? E isto é dito aqui de forma literal, pois ele conhece a bela e delicada Florence, fada protetora das flores que adora quando Michael toca oboé, e o convida para conhecer Flowerland, a terra das flores. Mas Musica, um pequeno duende, fará de tudo para mostrar que a música, na realidade, é onde está a verdadeira felicidade de Michael.
Assim como "Chirin no Suzu", "Fairy Florence" possui um estilo clássico mais parecido com animações ocidentais antigas, mas com pequenos detalhes típicos de animes, como o desenho de personagens. Os cenários em tons pastéis são delicados, muito detalhados, e a animação propriamente dita é excepcional na maior parte do tempo: o movimento das mãos, a terra caindo no vaso, as flores desabrochando, tudo é feito com um capricho fora do normal.
E a parte musical é até covardia. Além de alguns temas originais belíssimos criados por Naozumi Yamamoto especialmente para o filme, há um verdadeiro desfile de obras clássicas famosas de compositores como Beethoven, Mozart, Brahms, Chopin, entre outros, que servem de pano de fundo para belas sequências animadas em Flowerland.
"Fairy Florence" possui um ritmo geralmente mais lento e cadenciado, sem que se torne chato ou maçante por causa disto. É um grande prazer assistir a cada pequena sequência que se desenrola na tela, e fica sempre no ar aquela curiosidade gostosa em relação ao que virá em seguir. A sincronia entre imagem e som é ótima, e é interessante ver uma obra no estilo de "Fantasia" com alguns efeitos sonoros típicos de animes, além da participação especial de personagens da Sanrio, como a gatinha Hello Kitty, o pinguim Tuxedo Sam, as gêmeas Kiki & Lala e o coelho My Melody.
Se "Fairy Florence" tivesse mantido o esquema de curtas não interligados, como em "Fantasia", o resultado final seria quase perfeito. O problema é justamente a tal historinha que interliga os quadros. Sabemos que Michael perdeu os pais, mas não sabemos até que ponto isto pode ter influenciado no comportamento do rapaz, muito sonhador e pouco afeito ao contato com outras pessoas. O relacionamento que surge entre ele e Florence é totalmente forçado desde o início, e mesmo que provavelmente aconteça somente em sua mente, ele não empolga em momento algum. E rumo ao desfecho, infelizmente, a narrativa começa a ficar arrastada, com dramas que não convencem e uma resolução meio "final feliz" demais.
"Fairy Florence" tenta ser mais profundo e poético do que é na realidade. Vale muito a pena ser assistido, pois possui qualidades inegáveis, mas a narrativa em si deixa muito a desejar. Se eu tivesse que resumir "Fairy Florence" em poucas palavras, diria que é um anime interessante, diferente, instigante, mas nem um pouco apaixonante.
Marcelo Reis
Nenhum comentário:
Postar um comentário